quarta-feira, novembro 12, 2008
Por baixo da ponte
Minha mãe visitando a sede do Ministério da Cultura. Aí ela se lembra de quando foi lá registrar seu diploma de professora - os dados eram copiados à mão, numa letra de escriba medieval, por senhorinhas acomodadas no último andar do prédio.
- Olá, pode me dar uma informação? - pergunta ela a um guardinha no saguão. - Ainda existem aquelas velhinhas numa salinha lá no último andar preenchendo os diplomas do Instituto de Educação à mão?
Ao ouvir o "velhinhas", o guardinha automaticamente olha os cabelos alvos e fofos de minha mãe, o leque de rugas em volta dos olhos verdes e brilhantes num rosto corado e redondinho - e meio engasgado, responde:
- Vel...hinhas? Sim, senhora. Elas ainda trabalham lá.
E minha mãe, mais engasgada ainda, liga o sinal de "Velhice é uma merda" e vai embora - entrando na fila dos idosos rumo ao elevador até o último andar.
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Um comentário:
O tempo é implacável. Eu estou a caminho do velhinho. Espero chegar lá. Nem que tenha de ir para a fila do elevador.
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