segunda-feira, janeiro 15, 2007
Faça o que eu digo, não o que eu fiz*
"Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida." Soa meio pomposo: eu prefiro acordar cada dia para uma nova partida de pôquer. Cada manhã uma nova mão, alguns dias, junk, em outros, um full house, e todos os dias o desafio de jogar a próxima rodada para ganhar. Blefar, de acordo com o dicionário, significa "dar mostras de falsa segurança", e é uma habilidade tão valiosa quanto a habilidade de esconder uma grande jogada.
Desanimado porque quem te deu as cartas pode ter roubado? Em 1992 foi publicado o obituário de uma mulher, Katrina Haslip, a quem o The New York Times julgou ser uma pessoa especial, digna de ser lembrada. Katrina Haslip havia morrido de complicações decorrentes da Aids. Ela estava com 33 anos. Era uma ex-interna da prisão estadual de Nova York e tinha sido presa depois de várias condenações como batedora de carteiras. Quando estava na prisão, foi diagnosticada como soropositiva. Procurando ajuda inutilmente, resolveu fundar uma organização na prisão que ajudasse a ela e a outras internas doentes.
Depois que saiu da cadeia, continuou seus esforços para conscientizar as pessoas e levantar recursos para mulheres com Aids. Conforme escreveu o NYT, "Haslip, junto com outras organizações de combate à Aids, [...] lutou para pressionar o governo federal a expandir seus esforços para combater a doença entre as mulheres [...]". Por causa do trabalho de Katrina, dizia o jornal, "os centros federais para controle e prevenção da Aids, [...] um mês antes de sua morte [...], anunciaram os planos para ampliar a definição da síndrome no sentido de incluir mais doenças que afetam mulheres com o vírus [...]."
Quantas centenas - milhares - de vidas podem ter sido facilitadas, aliviadas, mesmo salvas, pela quantidade de dinheiro e informação que resultaram dessa iniciativa?
Katrina Haslip. Uma batedora de carteiras. Provavelmente viciada, possivelmente prostituta. Presa aos 27. Morta aos 33. Como foi possível uma rodada perdida como essa ter sido jogada para fazer do mundo um lugar melhor? E qual é a nossa desculpa?
*De Wendy Reid Crisp
Editora L&PM, 1997
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