sexta-feira, janeiro 26, 2007

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Desde que me entendo, sempre quis ser mãe. Minhas amigas diziam que era do signo - Câncer. Aquela que ama, acima de tudo, a família. Aquela que reverencia o passado, as raízes, os que vieram antes.

Me envergonho de dizer que, ultimamente, não tenho me sentido uma mãe. Estou me tornando cada vez mais egoísta. Invento motivos para ficar sozinha. Termino o trabalho no fim da tarde e arranjo pretextos para não ir pra casa. Passo muito tempo olhando pela janela, vendo as pessoas lá embaixo, pensando em como seria se eu não tivesse me casado, tido filhos.

Brinquei outro dia com uma amiga que queria viajar. Eu QUERO viajar. Quero passar um ano fora, estudando, aprendendo. Quero poder juntar dinheiro para mim, para gastar comigo, e não com material escolar ou sapatos ortopédicos.

Quero sair à noite sem hora para voltar. Quero voltar a beber sem me preocupar se vou ter sono pesado ou não. Quero chegar em casa e dormir com a roupa do corpo, sair de manhã cedo sem ter que esperar a empregada chegar. Quero investir em alguém sem me preocupar se ele vai gostar das meninas, se as meninas gostarão dele, a hora certa de apresentar uns e outros. Quero voltar a estudar sem ter que pensar o quão impossível será conciliar a grade de horários com saída da escola e agenda da baby sitter.

Quero ser aquela que era há 15 anos. E o que dói é que eu sei que isso não é possível. Passo agora as madrugadas acordada, numa insônia que só me traz a lembrança de todos aqueles planos que eu sei que jamais vou realizar. A hora deles passou. Não tenho mais tempo, disponibilidade, dinheiro. E, pior, estou ficando sem esperança de realizar os poucos sonhos que ainda me restam.

3 comentários:

Anônimo disse...

Mas quem disse que voce nao podera' realizar alguns desses sonhos mais tarde? Quando as meninas forem maiores? Nao desista (de todos pelo menos ... sejamos realistas ...).

Anônimo disse...

O que me parece curioso é que, geralmente, com o passar do tempo nossos planos vão se modificando junto com a gente. Pelo visto não foi o que aconteceu com você...
Assim sendo, na impossibilidade de realizar os planos impossíveis talvez fosse melhor elaborar outros, mais viáveis...

nane disse...

odeio dizer esse tipo de coisa suzana, mas sei como vc se sente.
tenho 23 e uma filha (linda) de 3. engravidei no meio da faculdade e eu e o pai dela acabamos decidindo morar juntos. Pq nos amamos e pq ele também queria curtir a filha temporona...
Sempre fui do tipo livre de sair sem dar satisfações, vc pode imaginar como minha cabeça pirou no pós-parto.. tive um depressão daquelas...
Hoje ainda fico remoendo os meus sonhos de pegar uma mochila, colocar nas costas e sair pelo mundo atrás de um futuro profissional e uma experiência de vida brilhantes, entre outros.
Vivo dizendo pros meus amigos recém-formados (como eu), se eu fosse sozinha como vcs ia fazer trainne lá na noruega se surgisse a oportunidade, mas não, eles preferem ficar grudados na barra da calça de pais e mães.
Por enquanto, vou realizando os sonhos por aqui mesmo. Consegui o trabalho que queria, na empresa que queria, (e o mercado de jornalismo por aqui é péssimo)
Ainda ganho pouco, muito pouco e a poupança para o mestrado foi substituída pelo financiamento da casa.
Mas acredito sim, que daqui a alguns anos, quando a bia estiver maior, eu possa voar um pouquinho...
não desista, como disse o amigo aí em cima, reorganize seus planos, afinal vc já passou por situações muito piores, quando não tinha nem dinheiro para comprar o material e os benditos sapatos ortopédicos, não é?
esse comentário acabou enorme, desculpe.
beijos