terça-feira, outubro 31, 2006
Minhas fotos prediletas III
Holland House Library is left roofless following an air raid, ca. 1940, London England, UK
Image by Copyright Hulton-Deutsch Collection/ CORBIS
2007
...
...
Ando tão sem inspiração que estou até com vergonha de escrever alguma coisa por aqui. Nada me vem - ninguém interessante na rua, nada de engraçadinho das meninas, nada. Nada, nada, nada. Estou ainda de ressaca, meio anestesiada, sem saber o que nem como fazer. Preguiça de pensar, de elaborar.
Preguiça de existir.
Preguiça de existir.
Quinta-feira, Outubro 26, 2006
Ela usa vestido. E só isso, por si só, já aumenta o meu respeito por ela. Eu admiro mulheres que usam vestido. Vestido, não um pedaço de pano, colado e justo que algumas etiquetas estrangeiras dizem que é vestido. Eu admiro mulheres que usam vestido. Admiro e desejo. É uma tarde agradável, num dia em que pessoas que tem trabalho normal estariam trabalhando. Eu não trabalho. Não preciso. Eu fico jogando umas perguntas para tentar descobrir algo a mais sobre ela. Ela usa vestido, óculos escuros e é inteligente o suficiente para não demonstrar o quanto. Calmamente o encontro agradável vai se tornando um jogo. Eu a quero, pelo fato de ser uma conquista admirável. Ela sabe. Percebe fácil. Ela é tão inteligente que só descubro que estou armando alguma coisa, depois dela. Ela me joga, de maneira sutil, que percebeu minhas intenções. E foi só aí que percebi minhas intenções. Isso aumenta mais a vontade. Nós dois estamos jogando. Nós dois estamos interessados um no outro, mas, para os dois, o prazer da disputa é maior. É um belo jogo de gato-e-rato. Pena que não haja nenhum rato entre nós.
Ronaldo Ventura (porque ele, infelizmente, não tem arquivos de posts)
segunda-feira, outubro 30, 2006
Eu me basto
Ela pediu um Himalaia de presentes - e ganhou um Pico da Bandeira. Eu pedi uma coisica só - e não ganhei.
Tudo bem, eu me amo. Eu me dou de presente.
Sim, eu estou me achando. Cansada, arrasada, acabada, mas me achando.
...
São três e meia quase e nem cheguei ainda ao primeiro posto do pedágio - trabalhar em marcha lenta é f.!
...
Tenho saudades do tempo em que sentia o rosto arder de vergonha quando percebia alguém me olhando fixamente e dizendo "Como você é linda!".
Mesmo sabendo que não sou, eu me sentia assim - e ele (quem quer que fosse) assim o enxergava.
Mesmo sabendo que não sou, eu me sentia assim - e ele (quem quer que fosse) assim o enxergava.
Resumindo
O que aconteceu foi que eu trabalhei feito uma condenada na semana passada. Trabalho tipo ir fazendo algo na van até a Barra e começar a labuta enquanto pendurava o crachá no pescoço. No elevador, quem me esperava já estava com um maço de planilhas na mão. Hard até a hora do almoço, quando eu aproveitava os terminais vazios para mandar textos revisados de um livro, de uma às duas. Terminado o almoço, mais trabalho, caçando gente e informação por três andares até as oito, nove horas da noite. Mais uma viagem de uma hora da Barra até o Flamengo, baldeação em Laranjeiras para mais duas horas de trabalho e, finalmente, desmaiar na cama, às duas da manhã - para recomeçar tudo às cinco e meia do dia seguinte.
Então, eu não li jornal, não vi televisão. Não falei de absolutamente nada a não ser trabalho. E no sábado, depois de despachar as meninas depois do almoço e fazer o serviço de casa atrasado - porque Murphy não falha, e a filha da minha empregada está com rubéola e ela não foi trabalhar - deitei às quatro da tarde para dar uma cochiladinha. Acordei domingo, na hora do almoço. Comi, deitei de novo e dormi. Acordei às cinco, tomei banho, as meninas chegaram, lanchamos, arrumei bolsa e mochilas e dormi - às oito da noite.
Ressaca. Boca seca, pernas doloridas, a mente vazia de dar dó. E mooooontes de trabalho atrasado.
E no sétimo dia, consegui ressuscitar.
Amém.
Houston, estamos com problemas
Peraí: deixa ver se eu entendi direito.
A eleição não é na semana que vem?
Como... assim?
A eleição não é na semana que vem?
Como... assim?
What to
What to Wear: sempre de algodão. Branco.
What NOT to Wear: qualquer coisa dourada, prateada, de lycra, apertante ou agarrante. E NEVER calça jeans
What to Shoe: sapatos boneca ou keds branco. No inverno, mocassins de salto grosso e fechadinhos college.
What to Denim: Absolutamente nada.
What to E-Bay: Fotos antigas.
What to Tee: de algodão branco, justinhas. Ou três números maior que o meu. Dele.
What to Accessory: Meu anel de prata, presente de uma amiga chamada Xotl. E meu anel marrom, de madeira.
What to Bargain: Livros.
What to Jewelry: Um anel de união que jamais terei.
What to Makeup: Gloss e rímel transparente (de vez em quando).
What to Fragrance: Jasmim, qualquer perfume.
What to Hair: Longo e avermelhado.
What to See: Minhas filhas dormindo.
What to TV: Inside the Actor's Studio.
What to Listen: Dinah Washington.
What to Read: No tempo das catedrais, de George Duby
What to Eat: Queeeeeeeeiiiiiiiijossssssssssss
What to Drink: Café com leite, de manhã; chá gelado, durante o dia; chá de abacaxi, gengibre e hortelã, à noite.
Li isso em tantos lugares que, sei lá, copie quem quiser...
What NOT to Wear: qualquer coisa dourada, prateada, de lycra, apertante ou agarrante. E NEVER calça jeans
What to Shoe: sapatos boneca ou keds branco. No inverno, mocassins de salto grosso e fechadinhos college.
What to Denim: Absolutamente nada.
What to E-Bay: Fotos antigas.
What to Tee: de algodão branco, justinhas. Ou três números maior que o meu. Dele.
What to Accessory: Meu anel de prata, presente de uma amiga chamada Xotl. E meu anel marrom, de madeira.
What to Bargain: Livros.
What to Jewelry: Um anel de união que jamais terei.
What to Makeup: Gloss e rímel transparente (de vez em quando).
What to Fragrance: Jasmim, qualquer perfume.
What to Hair: Longo e avermelhado.
What to See: Minhas filhas dormindo.
What to TV: Inside the Actor's Studio.
What to Listen: Dinah Washington.
What to Read: No tempo das catedrais, de George Duby
What to Eat: Queeeeeeeeiiiiiiiijossssssssssss
What to Drink: Café com leite, de manhã; chá gelado, durante o dia; chá de abacaxi, gengibre e hortelã, à noite.
Li isso em tantos lugares que, sei lá, copie quem quiser...
quarta-feira, outubro 25, 2006
...
Trabalho frila na Barra. Semana de Olimpíadas escolares. Renovação de matrícula. Três livros por entregar.
Tô morta. Espero ressuscitar em três dias.
Tô morta. Espero ressuscitar em três dias.
quinta-feira, outubro 19, 2006
Em busca do Agá
O meu Destino disse-me a chorar:
"Pela estrada da Vida vai andando,
E, aos que vires passar, interrogando
Acerca do Agá, que hás-de encontrar."
Fui pela estrada a rir e a cantar
As contas do meu sonho desfiando...
E a noite e dia, à chuva e ao luar,
Fui sempre caminhando e perguntando...
Mesmo a um velho eu perguntei: "Velhinho,
Viste o Agá acaso em teu caminho?"
E o velho estremeceu... olhou...e riu...
Agora pela estrada, já cansados,
Voltam todos pra trás desanimados...
E eu paro a murmurar: "Ninguém o viu!..."
Plágio exclusivo ganho num concorrido certame patrocinado pelo Agá.
"Pela estrada da Vida vai andando,
E, aos que vires passar, interrogando
Acerca do Agá, que hás-de encontrar."
Fui pela estrada a rir e a cantar
As contas do meu sonho desfiando...
E a noite e dia, à chuva e ao luar,
Fui sempre caminhando e perguntando...
Mesmo a um velho eu perguntei: "Velhinho,
Viste o Agá acaso em teu caminho?"
E o velho estremeceu... olhou...e riu...
Agora pela estrada, já cansados,
Voltam todos pra trás desanimados...
E eu paro a murmurar: "Ninguém o viu!..."
Plágio exclusivo ganho num concorrido certame patrocinado pelo Agá.
Quinta-feira, Outubro 19, 2006
Em algum lugar desse país faz um calor infernal. Dentro de mim, também. Em algum canto escondido desse país, você deve estar acordada, sorrindo, sentada ou lavando a louça, ou arrumando qualquer coisa. Em algum lugar. Em algum lugar que conheço bem, eu abro a geladeira e pego a última cerveja. Eu não tento pensar em você. Acontece. Eu não sei porque, e se sei, não quero saber. O que eu sei é que em algum lugar desse país está chovendo muito. E dentro de mim, também.
Ronaldo Ventura
Uma outra versão (mais talentosa) daquela frase que eu postei aqui.
quarta-feira, outubro 18, 2006
Miudezas fúteis
Eu sempre admirei a capacidade de os americanos inventarem nomes ridículos para casais famosos. Alguns:
Brangelina (Angelina Jolie e Brad Pitt)
TomKat (Tom Cruise e Katie Holmes)
Bennifer (Jennifer Lopez e Ben Affleck)
E agora achei mais dois ridículos, fuçando notícias sobre a nova temporada de "24 Horas":
Jaudrey (Jack Bauer e Audrey Raines)
Tochelle (Tony Almeida e Michelle Dressler)
Credo...
Brangelina (Angelina Jolie e Brad Pitt)
TomKat (Tom Cruise e Katie Holmes)
Bennifer (Jennifer Lopez e Ben Affleck)
E agora achei mais dois ridículos, fuçando notícias sobre a nova temporada de "24 Horas":
Jaudrey (Jack Bauer e Audrey Raines)
Tochelle (Tony Almeida e Michelle Dressler)
Credo...
terça-feira, outubro 17, 2006
Recordar
Às vezes, a gente leva umas bofetadas do tempo assim, sem mais nem aquela:
Descobri que Terence Trent D'Arby - aquele que fez a mais genial música para striptease* de todos os tempos, "Wishing well"** - fez 42 anos e mudou, já se vão cinco anos, seu nome para Sananda Maitreya.
Ouh, Lord...
** Wishing well
Kissing like a bandit
Stealing time
Underneath a sycamore tree
Cupid by the hour sends
Valentines
To my sweet lover and me
Slowly
But surely
Your appetite is more than I knew
Sweetly
Softly
I'm falling in love with you
Wish me love a wishing well
To kiss and tell
A wishing well of butterfly tears
Wish me love a wishing well
To kiss and tell
A wishing well of crocodile cheers
Hugging like a monkey see
Monkey do
Right beside a riverboat gambler
Erotic images float through my head
So I wanna be
Your midnight rambler
Quickly
Quickly
The blood races through my veins
Quickly
Loudly
I wanna hear those sugar bells ring
Wish me love a wishing well
To kiss and tell
A wishing well of butterfly tears
Wish me love a wishing well
To kiss and tell
A wishing well of crocodile cheers
* Não acredita? Ouça aqui e faça um. Você vai ver que cabe tudo direitinho: a letra, a música e as intenções. Vai por mim. Descobri na prática :o)
segunda-feira, outubro 16, 2006
...
Eu venho pouco agora porque estou cheia de trabalho, muito mesmo. Sem tempo pra nada, nem para ter um pingo de inspiração. Mas uma frase que eu ouvi há muito tempo, e que lembrei ao postá-la numa caixa de comentários, não me sai da cabeça:
"Eu e meu amor fomos feitos um para o outro. Falta apenas alguém nos apresentar."
sexta-feira, outubro 13, 2006
O circo chegou
O livro será o artista principal no picadeiro do circo montado na Praça do Correio, no Anhangabaú (SP), até o dia 27 de outubro. Mais de oito mil deles dividirão espaço com malabaristas e palhaços no Grande Circo do Livro, evento literário promovido pela Laselva Bookstore e pela Prefeitura. Num espaço de 700 metros quadrados, coberto por lona, serão vendidos best-sellers, obras técnicas e clássicos, com preços que variam entre R$ 5,00 e R$ 15,00. O evento também trará autores e artistas circenses, que informarão ao público sobre os títulos disponíveis. O circo abre das 9h às 18 horas e tem entrada gratuita.
Estado de S. Paulo, ontem.
Ouh, my...
Estado de S. Paulo, ontem.
Ouh, my...
La Belle de Jour
Uma das últimas edições da Veja São Paulo tem na capa a eleição das 30 mais belas paulistanas. A matéria traz fotos das belas e pequenas pérolas de seu conhecimento. Algumas:
Luciana Gimenez (apresentadora, 35 anos)
De qual parte do seu corpo você menos gosta?
Do calcanhar. Acho meio grosso.
Como seria a sua vida se você fosse feia?
Buscaria outras coisas legais em mim. Seria legal, engraçada, inteligente...
Isabella Fiorentino (modelo, 29 anos)
Já fez plástica?
Coloquei silicone nos seios, mexi no nariz e uma vez por ano aplico Botox nas axilas para diminuir o suor nessa região.
Luana Piovani (atriz, 30 anos)
De qual parte do seu corpo você menos gosta?
Tenho uma bolsinha de gordura na axila que me mata...
Adriane Galisteu (apresentadora, 33 anos)
O que cansa a sua beleza?
Homem que disputa o espelho. É uma modalidade nova mas grave de homem.
Cris Sandi (socialite, 43 anos)
Já fez plástica?
Nunca plastifiquei nada. Juro em nome dos meus dois filhos.
Não sai de casa sem...
Batom e meu terço que brilha no escuro.
Daniella Cicarelli (apresentadora, 26 anos)
Convidada, não quis participar da reportagem.
quinta-feira, outubro 12, 2006
Assim caminha a humanidade
Corria o ano de 1880. Cansado de masturbar manualmente suas pacientes, o médico Joseph Mortimer Granville inventou e patenteou o primeiro vibrador eletromecânico com forma fálica. Durante o século XIX, a massagem do clitóris era considerada o único tratamento adequado contra a histeria, de forma que centenas de mulheres acudiam ao consultório de seu médico (e com a bênção dos maridos) para que ele massageasse a zona e induzisse um "paroxismo histérico" - hoje conhecido como "orgasmo".
E depois eles se dizem mentes superiores...
terça-feira, outubro 10, 2006
Achados entre guardados
A lei do menor esforço
Vivo recebendo pela internet pedidos de auxílio de estudantes. Na medida do possível respondo, e sempre de forma polida e gentil. Faz um tempinho, um grupo de estudantes de jornalismo de uma escola particular paulista pediu uma entrevista: precisavam fazer um trabalho sobre Monteiro Lobato. Pedi um tempo, andava viajando. Quando voltaram a fazer contato, pedi que antecipassem as questões. Quando as recebi, fiquei pasma. Algumas eram tão primárias que mera consulta a qualquer enciclopédia responderia a elas. Outras eram tão mal formuladas, que não se entendia o que indagavam:
"Perguntas em relação à Monteiro Lobato
* A senhora pode relatar resumidamente a infância, começo de carreira e vida de Monteiro Lobato?
* Quais foram os principais prêmios adquiridos por Lobato?
* Quais foram os principais trabalhos do autor?
* Monteiro Lobato até hoje tem fama de ser uma pessoa nacionalista por aplicar em seus personagens personalidades fortes e que tem a intenção de mostrar algo que, talvez, esteja errado no país, ou até mesmo no mundo. Como você explica isso?
* A personalidade dos personagens tem alguma relação com os últimos acontecimentos (em relação à política)?
Perguntas em relação ao Sítio do Picapau Amarelo
* Na sua opinião o que leva um programa que foi criado nos anos 50 ser sucesso até hoje, de forma e gerações tão diferentes?
* Qual a essência das histórias do Sítio do Picapau Amarelo?
* Qual (quais) personagem (s) do Sítio as crianças se identificam mais (na literatura e na TV)? Porquê?
* Através de seus estudos, como você define cada personagem do Sítio?
* Há mesmo em cada um deles uma personalidade nacionalista?
Peço que qualquer dúvida nos questione. Obrigado pela atenção e aguardamos retorno.
Abraços"
O pasmo transformou-se em indignação: pediam-me uma entrevista não porque conhecessem o que eu já tinha escrito sobre Lobato e quisessem discutir e aprofundar alguns tópicos, mas porque queriam livrar-se da pesquisa. Respondi passando um pito: disse-lhes que não tinham feito a lição de casa e que as perguntas eram primárias demais para merecerem uma resposta, quanto mais uma entrevista. Tentei ser gentil e pedagógica:
"Minhas queridas Fulana, Sicrana e Beltrana:
Como já lhes havia dito, nada entendo de televisão e, conseqüentemente, passo ao largo por todas as questões relativas ao programa do Sítio. Quanto às perguntas de literatura, vocês vão me desculpar, mas vocês parecem não ter lido nada sobre Lobato nem sobre sua obra. Nem trabalhos meus, nem de ninguém. Sequer pesquisas na internet vocês parecem ter feito! Fazem perguntas completamente cruas, primárias. Desculpem, e entendam esta resposta como uma lição de quem podia ser professora de vocês. Qualquer biografia que vocês consultarem fornece dados sobre infância e principais obras de Lobato. Acho, assim, que vocês precisam primeiro aprender o que já se sabe sobre Monteiro Lobato e só depois entrevistar pesquisadores. Combinado?
Um abraço e boa sorte.
Marisa Lajolo"
Aí as moças ficaram bravas: alguns dias depois me deram uma bronca, de novo maltratando nossa pobre língua, que eu julgava ser instrumento de trabalho de jornalistas :
"Querida professora,
Agradeço por ter nos respondido e ficamos agradecidas por nos dar total orientação. Entendemos que talvez seja melhor nós procurarmos outra pessoa uma vez que a senhora não disponibiliza de tempo para certas tarefas. Só quero certificá-la que estamos concientes que as respostas das questões enviadas podemos encontrar em certos locais, mas a senhora deve saber que fontes são necessárias para se fazer reportagem por isso não se preocupe, já estamos pautando outras fontes.
Boa sorte prá você também.
Abraços"
Ou seja, foi minha vez de levar um pito.
Ainda com as orelhas ardendo, pergunto a meus botões: é assim mesmo que se ensina a fazer jornalismo? Ensina-se que o jornalista vai de cabeça vazia perguntar ao especialista quando nasceu Monteiro Lobato, quais as obras mais importantes dele e que prêmios ele recebeu? E não se exige um domínio mínimo da modalidade escrita da língua portuguesa?
Meus botões ficaram perplexos.
E face ao silêncio dos botões, Monteiro Lobato, lá do etéreo assento, me sugere que convoque o Quindim e o Burro Falante para, com uma boa chifrada e um par de coices dar um jeito nestas escolas de jornalismo que desensinam os jovens...
Marisa Lajolo é doutora em Letras e professora-titular do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp.
Vivo recebendo pela internet pedidos de auxílio de estudantes. Na medida do possível respondo, e sempre de forma polida e gentil. Faz um tempinho, um grupo de estudantes de jornalismo de uma escola particular paulista pediu uma entrevista: precisavam fazer um trabalho sobre Monteiro Lobato. Pedi um tempo, andava viajando. Quando voltaram a fazer contato, pedi que antecipassem as questões. Quando as recebi, fiquei pasma. Algumas eram tão primárias que mera consulta a qualquer enciclopédia responderia a elas. Outras eram tão mal formuladas, que não se entendia o que indagavam:
"Perguntas em relação à Monteiro Lobato
* A senhora pode relatar resumidamente a infância, começo de carreira e vida de Monteiro Lobato?
* Quais foram os principais prêmios adquiridos por Lobato?
* Quais foram os principais trabalhos do autor?
* Monteiro Lobato até hoje tem fama de ser uma pessoa nacionalista por aplicar em seus personagens personalidades fortes e que tem a intenção de mostrar algo que, talvez, esteja errado no país, ou até mesmo no mundo. Como você explica isso?
* A personalidade dos personagens tem alguma relação com os últimos acontecimentos (em relação à política)?
Perguntas em relação ao Sítio do Picapau Amarelo
* Na sua opinião o que leva um programa que foi criado nos anos 50 ser sucesso até hoje, de forma e gerações tão diferentes?
* Qual a essência das histórias do Sítio do Picapau Amarelo?
* Qual (quais) personagem (s) do Sítio as crianças se identificam mais (na literatura e na TV)? Porquê?
* Através de seus estudos, como você define cada personagem do Sítio?
* Há mesmo em cada um deles uma personalidade nacionalista?
Peço que qualquer dúvida nos questione. Obrigado pela atenção e aguardamos retorno.
Abraços"
O pasmo transformou-se em indignação: pediam-me uma entrevista não porque conhecessem o que eu já tinha escrito sobre Lobato e quisessem discutir e aprofundar alguns tópicos, mas porque queriam livrar-se da pesquisa. Respondi passando um pito: disse-lhes que não tinham feito a lição de casa e que as perguntas eram primárias demais para merecerem uma resposta, quanto mais uma entrevista. Tentei ser gentil e pedagógica:
"Minhas queridas Fulana, Sicrana e Beltrana:
Como já lhes havia dito, nada entendo de televisão e, conseqüentemente, passo ao largo por todas as questões relativas ao programa do Sítio. Quanto às perguntas de literatura, vocês vão me desculpar, mas vocês parecem não ter lido nada sobre Lobato nem sobre sua obra. Nem trabalhos meus, nem de ninguém. Sequer pesquisas na internet vocês parecem ter feito! Fazem perguntas completamente cruas, primárias. Desculpem, e entendam esta resposta como uma lição de quem podia ser professora de vocês. Qualquer biografia que vocês consultarem fornece dados sobre infância e principais obras de Lobato. Acho, assim, que vocês precisam primeiro aprender o que já se sabe sobre Monteiro Lobato e só depois entrevistar pesquisadores. Combinado?
Um abraço e boa sorte.
Marisa Lajolo"
Aí as moças ficaram bravas: alguns dias depois me deram uma bronca, de novo maltratando nossa pobre língua, que eu julgava ser instrumento de trabalho de jornalistas :
"Querida professora,
Agradeço por ter nos respondido e ficamos agradecidas por nos dar total orientação. Entendemos que talvez seja melhor nós procurarmos outra pessoa uma vez que a senhora não disponibiliza de tempo para certas tarefas. Só quero certificá-la que estamos concientes que as respostas das questões enviadas podemos encontrar em certos locais, mas a senhora deve saber que fontes são necessárias para se fazer reportagem por isso não se preocupe, já estamos pautando outras fontes.
Boa sorte prá você também.
Abraços"
Ou seja, foi minha vez de levar um pito.
Ainda com as orelhas ardendo, pergunto a meus botões: é assim mesmo que se ensina a fazer jornalismo? Ensina-se que o jornalista vai de cabeça vazia perguntar ao especialista quando nasceu Monteiro Lobato, quais as obras mais importantes dele e que prêmios ele recebeu? E não se exige um domínio mínimo da modalidade escrita da língua portuguesa?
Meus botões ficaram perplexos.
E face ao silêncio dos botões, Monteiro Lobato, lá do etéreo assento, me sugere que convoque o Quindim e o Burro Falante para, com uma boa chifrada e um par de coices dar um jeito nestas escolas de jornalismo que desensinam os jovens...
Marisa Lajolo é doutora em Letras e professora-titular do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp.
segunda-feira, outubro 09, 2006
...
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno,
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conte-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa), "Poemas"
...
Hoje, eu acordei cedo, como de costume, ainda com a ressaca da pneumonia que era um resfriado mal curado, evoluído para uma gripe mal tratada. Arrumei as meninas e deixei-as no colégio para curtirem a semana da criança.
Catatau foi de minissaia, meia calça rosa e tênis branco-e-rosa, com uma blusa branca com um mimoso coelhinho na frente. Zé Colméia foi com sua calça psicodélica anos 70, com uma blusa rosa pink da Minnie e sapatos com corações brancos. Essa é a Semana da Criança, e elas comemoram comme il faut.
Vim para a casa dos meus pais, chequei meus e-mails e fui para a audiência de conciliação com meu ex-marido. Lá, mesmo com o conciliador mostrando o laudo do exame de corpo delito, feito na mesma manhã no IML, ele negou as agressões. Disse que vai convocar como testemunhas toda a redação do jornal onde trabalha, para que eles digam o quanto eu sou maluca, como ele é vítima de perseguição de uma obssessiva-compulsiva.
O conciliador explicou a ele que nada disso seria necessário: o que eu queria para desistir do processo? Que ele fizesse um tratamento decente para a agressividade dele, eu respondi. Ao que ele respondeu: pra que tratamento, se eu não agerdi ninguém?
O processo continua. E agora tenho que fazer um rol de testemunhas das agressões dele. Vou ter que descobrir agora quem é realmente meu amigo.
Catatau foi de minissaia, meia calça rosa e tênis branco-e-rosa, com uma blusa branca com um mimoso coelhinho na frente. Zé Colméia foi com sua calça psicodélica anos 70, com uma blusa rosa pink da Minnie e sapatos com corações brancos. Essa é a Semana da Criança, e elas comemoram comme il faut.
Vim para a casa dos meus pais, chequei meus e-mails e fui para a audiência de conciliação com meu ex-marido. Lá, mesmo com o conciliador mostrando o laudo do exame de corpo delito, feito na mesma manhã no IML, ele negou as agressões. Disse que vai convocar como testemunhas toda a redação do jornal onde trabalha, para que eles digam o quanto eu sou maluca, como ele é vítima de perseguição de uma obssessiva-compulsiva.
O conciliador explicou a ele que nada disso seria necessário: o que eu queria para desistir do processo? Que ele fizesse um tratamento decente para a agressividade dele, eu respondi. Ao que ele respondeu: pra que tratamento, se eu não agerdi ninguém?
O processo continua. E agora tenho que fazer um rol de testemunhas das agressões dele. Vou ter que descobrir agora quem é realmente meu amigo.
sexta-feira, outubro 06, 2006
terça-feira, outubro 03, 2006
...
A inveja é um sentimento ruim, destruidor. Ela agulha o coração, esmaga o raciocínio e paralisa qualquer ação quando vem acompanhado de mágoa e muita, muita raiva.
Eu tenho um irmão mais novo. Uma pessoa que não gosta de crianças e que, se você estiver passando fome e precisar de ajuda financeira, pergunta quando você vai pagar de volta e acrescenta 2% de juros ao mês. Não nos falamos há anos. Da última vez em que estivemos juntos em Friburgo, ele exigiu que meus pais escolhessem com quem eles gostariam de fazer as refeições, porque ele não comeria com minhas filhas (muito pequenas, na época), já que elas "não sabiam se comportar nem comer direito" (como se uma criança de oito meses soubesse comer direito). No almoço, minha mãe nos levou uma bandeja no quarto. Eu fiz as malas e voltei para o Rio.
Minha mãe acaba de me dizer que ele abriu uma editora. O meu sonho mais antigo, o que eu mais acalento, o objetivo da minha vida, ele realizou. Editou um livro - o livro que marcou a minha infância, um livro para crianças que seria o primeiro da minha editora - e, na surdina, pediu que meus pais discretamente se informassem comigo como ele poderia distribuí-lo no Rio.
Sabendo que eu amo livros. Que meu sonho é construir uma editora. Que eu preciso de dinheiro para viver. Que eu não tenho emprego fixo e duas filhas para criar.
Às vezes eu tento imaginar quem inventa, na minha vida, essas brincadeiras tão cruéis.
Eu tenho um irmão mais novo. Uma pessoa que não gosta de crianças e que, se você estiver passando fome e precisar de ajuda financeira, pergunta quando você vai pagar de volta e acrescenta 2% de juros ao mês. Não nos falamos há anos. Da última vez em que estivemos juntos em Friburgo, ele exigiu que meus pais escolhessem com quem eles gostariam de fazer as refeições, porque ele não comeria com minhas filhas (muito pequenas, na época), já que elas "não sabiam se comportar nem comer direito" (como se uma criança de oito meses soubesse comer direito). No almoço, minha mãe nos levou uma bandeja no quarto. Eu fiz as malas e voltei para o Rio.
Minha mãe acaba de me dizer que ele abriu uma editora. O meu sonho mais antigo, o que eu mais acalento, o objetivo da minha vida, ele realizou. Editou um livro - o livro que marcou a minha infância, um livro para crianças que seria o primeiro da minha editora - e, na surdina, pediu que meus pais discretamente se informassem comigo como ele poderia distribuí-lo no Rio.
Sabendo que eu amo livros. Que meu sonho é construir uma editora. Que eu preciso de dinheiro para viver. Que eu não tenho emprego fixo e duas filhas para criar.
Às vezes eu tento imaginar quem inventa, na minha vida, essas brincadeiras tão cruéis.
Insanidades
segunda-feira, outubro 02, 2006
Torta de maçãs
Ingredientes:
Massa
2 xícaras e meia (chá) de farinha de trigo
1 pitada de sal
2 colheres (sopa) de açúcar
1 colher (chá) de fermento em pó
1 colher (sopa) de manteiga
1 lata de creme de leite
farinha de trigo para polvilhar
Recheio
6 maçãs médias descascadas
1 xícara e meia (chá) de açúcar
2 colheres (sopa) de manteiga
3 colheres (sopa) de conhaque
Como fazer
Massa
Em um recipiente misture a farinha, o sal, o açúcar e o fermento. Acrescente a manteiga e o Creme de Leite e misture com a ponta dos dedos, até formar uma massa lisa e homogênea. Deixe descansar por 20 minutos. Abra a massa sobre uma superfície enfarinhada e forre o fundo e a lateral (formando uma borda de cerca de 3 dedos) de uma fôrma de aro removível (25 cm de diâmetro). Fure a massa com um garfo e asse em forno médio-alto (200 °C), pré-aquecido, por cerca de 20 minutos. Reserve. Abra o restante da massa formando um retângulo, corte em tiras e reserve.
Recheio
Corte as maçãs ao meio, retire as sementes e corte cada metade em cinco fatias. Em uma frigideira grande coloque o açúcar e leve ao fogo baixo até caramelizar. Junte a manteiga, as maçãs e o conhaque. Deixe cozinhar, mexendo sempre, até derreter os torrões de açúcar e engrossar o caramelo. Retire do fogo, espere esfriar e coloque sobre a massa assada. Distribua as tiras de massa reservadas sobre o recheio formando um trançado, apertando as pontas contra a borda da massa. Asse em forno médio-alto (200 °C), pré-aquecido, até que esteja dourada (cerca de 40 minutos). Deixe amornar, desenforme e sirva a seguir, acompanhada do sorvete de Creme.
Rendimento: 8 porções
Me mande uma, ok? :o)
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