quinta-feira, agosto 28, 2008

Déjà vu



Morar junto não é morar na mesma casa. Casar não é trocar alianças, assinar na linha pontinhada um papel igualzinho para 20 casais apertados na sala do cartório. Ter filhos não é procriar. Ser marido e mulher não é só figura jurídica. Dizer "desculpe" não deve ser ato falho. Dizer todo dia "Eu te amo" não pode ser uma maneira de você, repetindo a frase sem parar, acreditar naquilo que não é mais verdade.

Desfiz um casamento de quase dez anos. Ele foi um namorado maravilhoso, um péssimo marido. Dez anos de uma solidão profunda, em que a pior conseqüência foi que eu esqueci como se ri. Esqueci como achar graça na vida, como dar uma gargalhada quando tudo está a caminho do cemitério, o carro fúnebre esperando, todo mundo de preto e o padre fazendo cara feia porque a missa vai atrasar. E eu não me decido se pérolas combinam ou se batatas fritas acompanham.

Lembrei dos bilhetes apaixonados que eu costumava, teimosamente, espalhar pela casa, pelos bolsos das camisas, pela mochila, pela cama. Das festas de aniversário preparadas de surpresa, dos presentes sem motivo algum. Das comidas diferentes, das camisetas com os desenhos das crianças no Dia dos Pais. Dos partos solitários, dos beijos roubados que - esperança boba, a minha - nunca me foram devolvidos.

A vida economizando, a casa bonita que ficou guardada nas caixas de mudança e que dali jamais saíram. Aniversários de casamento como outro dia qualquer.

Eu sinto falta somente de uma pessoa que me faça rir. Não precisa chamar meu corpo no meio da noite, não precisa levar minhas compras, acariciar meus cabelos, me ligar no meio do dia pra perguntar “Tá viva?”, fechar meus olhos para a dor ou me deixar ficar com o controle remoto.

Eu preciso voltar a rir da vida. E é urgente.
Pra ontem.

4 comentários:

agá w disse...

Putz, cheguei tarde!

Maria Angélica disse...

Querida, sei que não é nada simples e que nem é exatamente disso que você está falando. Mas vamos marcar finalmente um passeio com as meninas? Que tal?
beijos

Angela disse...

Suzana

Nem sempre quem temos nos faz rir, mas é preciso demais ter alguém que nos faça rir. E eu também preciso urgentemente voltar a rir da vida.

Beijos

PS: Faz tanto tempo que não venho aqui que sei que você nem se lembra mais de mim hehehe

Kenia Mello disse...

"Desfiz um casamento de quase dez anos. Ele foi um namorado maravilhoso, um péssimo marido. Dez anos de uma solidão profunda, em que a pior conseqüência foi que eu esqueci como se ri. Esqueci como achar graça na vida, como dar uma gargalhada quando tudo está a caminho do cemitério, o carro fúnebre esperando, todo mundo de preto e o padre fazendo cara feia porque a missa vai atrasar. E eu não me decido se pérolas combinam ou se batatas fritas acompanham."

Essa parte também é a história de um tempo da minha vida. Ainda bem que pude rir de novo.

Gostei do seu blog, vi no site da Naomi.
Beijo.