Mesmo com caruncho, amassados, rasgos na pele eu boto no saco batatas, maçãs, bananas, tomates (principalmente tomates) - desde que eu assisti "Ilha das Flores".
Mesmo sendo muito pouco, eu me sinto muito mal comprando presentes para as minhas filhas em épocas comemorativas, como Páscoa e Natal.
Sempre que chove, eu olho preocupada lá pra fora e penso naquela mulher sentada numa cadeira, encolhida e sem se mexer, com os três filhos sobre ela: dois pequenos em seus braços e um menino maior (8 anos, talvez?) sentado no chão, dormindo encostado em suas pernas. Em volta deles, uma tempestade dentro do barraco. Pela porta aberta, eu via, do carro da reportagem, enquanto o motorista e o fotógrafo trocavam o pneu sob uma chuva torrencial às duas da manhã, como a mulher tentava proteger os filhos do mar de goteiras que despencava à sua volta. Sempre que chove, eu me lembro dos olhos dela. Vejo ali o cansaço do dia seguinte, a tristeza em assistir, sem nada poder fazer, a destruição do pouco dentro do casebre, a esperança de um dia aquela merda de vida mudar - que seus filhos tenham ao menos o direito de dormir à noite secos e protegidos.
Sempre que gasto algo comigo, mesmo que necessário, me arrependo antes mesmo de receber a nota do caixa. Penso que Catatau precisa de um jeans, que Zé Colméia ainda não cortou o cabelo que está medonhamente crescido, que eu podia dar aquela vacina extra no cachorro (mesmo sabendo, lá no fundo, que ela é totalmente desnecessária), que poderia ter comprado mais carne, feito um estoque de leite, guardado pra uma emergência.
Culpa é meu primeiro nome.
terça-feira, maio 21, 2013
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3 comentários:
Acho que a culpa da mãe nasce junto com o filho.
Eu preciso fazer a sobrancelha(ha 6 meses não faço), peço a uma prima para cortar as pontas do meu cabelo e pago hidratação no salão para minha filha, fui duas vezes numa loja olhar uma bota que amei e adivinha, comprei pra minha filha.
Sinto uma culpa enorme por todo o desperdicio que ha em casa. Panelas de arroz e feijão são jogadas fora quase diariamente. Um dia comem, outros não. Um dia amam um prato, no outro detestam.Meu feijão foi eleito o pior do mundo por unaminidade pra você ter uma ideia.
O meu, o seu, o nosso.
Suspiros. Meu avô, que já passou fome na vida, lá na Itália, em época de guerra. Não nos deixava desperdiçar nada. Nada. Era até tenso isso. Hoje eu entendo. São muitas as dores por aí, não me permito esquecer. Bjos Suzana. Adoro seus textos. Escreva mais , por favor!
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