Chora, fia, chora

Você conhece o cara. Ele parece bacana. Convida você para almoçar. Duas vezes. Um cavalheiro. Aí você resolve se consultar com aquele amigo de todas as horas, o vidente que mostra a alma e o caráter das pessoas (aka Facebook). Tá lá: "Interessam-me: Mulheres"; "Status de relacionamento: Em um relacionamento enrolado."

Você sabe que aquilo custa uma fortuna. Mas pede do mesmo jeito, se controlando para falar direito ao telefone, com a boca cheia d'água. Aí o prato chega. Você paga, sem remorso. Senta, abre a embalagem chiquê e prova. Sem sal. Abre um saquinho, polvilha cheia de medinho e experimenta: ainda sem sal. Já sabendo do que gosta, despeja sem piscar mais dois saquinhos. Come com fé e descobre que adoçante artificial definitivamente não combina com camarões.

Você nem acredita que aquele filme - AQUELE - que você ama - AMA - excepcionalmente sabe-se-lá-por-que entrou na grade de programação de um canal e vai passar numa hora ser humana. Crianças na cama, chá quentinho do lado, cobertor de lã, meias idem, cachorros ressonando alimentados na cozinha. O filme começa - ai, Gizuis - e falta luz.

O micro-ondas pifa, e você conserta. A máquina de lavar pifa - e você conserta. A geladeira pifa - e você conserta. E então dá graças porque o chuveiro elétrico que custou uma fortuna tá novinho e aguentando o frio em cima do morro - e ele pifa (na hora em que você tá lá embaixo dele, com a cabeça cheia de xampu. Claro.).