quarta-feira, outubro 14, 2009

Passaporte



Eu me lembro quando eu viajava. Muito. E o meu maior barato não era o destino - claro, sempre é - mas sim a oportunidade de vida. E não estou falando de "alargar horizontes". Estou falando de realizar todos os seus sonhos de infância, as suas fantasias mais loucas, os seus desejos mais doidos de uma existência que você não tem - nem terá.

- Ahn, como vamos viajar umas quatro horas nesse avião apertado, bem... Vou me apresentar: Fulano.
- Oi, eu sou Pilar.
- Nossa, que nome diferente! O que você faz?
- Sou arqueóloga. Egiptóloga, na verdade.

...

- Prazer. Sofia.
- Oi, Sofia. Você está viajando de férias?
- Um pouco. Vou também a trabalho.
- Você faz o quê?
- Sou restauradora de obras de arte.

...

- E eu sou Manuela.
- E você faz o que pra viver?
- Sou ilustradora de livros infantis.

...

- Vôo demorado, não?
- Passa rápido.
- Sou Sicrano. E você é...?
- Isabel.
- De férias?
- Não, estou indo buscar um cavalo para o haras onde trabalho.

...

- Bom viajar, não?
- Eu gosto muito.
- Eu me chamo Beltrano. E você é a...
- Chantal.
- Nome francês, é?
- Nome da minha avó.
- Ah, e você trabalha em que, Chantal?
- Sou bióloga-estagiária no Parque Nacional Kruger. África do Sul. Mas estou de férias, sabe?

Não é o máximo? Reinventar sua vida inteirinha em poucas horas. Não sei se é patológico, se é certo, se é legal ou ilegal. Só sei que sempre me diverti muito - e, muitas vezes, tornou o destino e o objetivo da viagem muito menos doloroso.

2 comentários:

André disse...

Muito muito legal. Talvez inventar seja 'errado', mas é muito melhor do que dar uma resposta verdadeira e entediante. 'Ah, eu sou contador.', 'E o que tem de interessante no seu trabalho?', 'Bom... er... de vez em quando as contas dão errado.'

Suzana Elvas disse...

Hahahahahaha!