terça-feira, outubro 27, 2009

Anzol e entrelinhas



Faz tempo que eu procuro alguma coisa interessante para ler. Por ficção joguei a toalha faz tempo: já estava com varizes de ficar em pé na livraria pescando um trecho ali, um parágrafo acolá, em busca de algum peixe que fisgasse a mim. Até que me dei conta que, na verdade, procuro em água doce o que nada em pleno mar. Jamais pescaria nada que prestasse.

Não me lembro qual foi o último livro de ficção que li. Minto; lembro, sim: "Monte Verità", devorado em menos de duas horas. Mas assistindo um episódio de uma das minhas séries favoritas, me peguei discutindo com Zé Colméia (que é fã, também; dez anos de Umbral por viciar a menina) porque aquela série era legal e outros seriados, não.

"Bom, a história é doida mas é como se fosse de verdade, né? Quer dizer, você ACREDITA que é possível acontecer. Porque toda a história, todos os detalhes, os personagens, a história do povo, é tudo bem amarradinho, então não sobram perguntas pra se responder. Está ali, e eles lembram cinquenta episódios depois que o fulano fez isso - e as consequências aparecem então agora."

Pois é isso que eu estava procurando num livro de ficção. A história bem amarrada. O clímax/anticlímax. A vontade de ver aonde o autor me levaria. Pois eu não encontro mais isso. Todos os autores querem me arrastar praquele programa cinema/restaurante/motel/depois-te-ligo. Ninguém me convida pra ir ao circo, ou a um festival de balões, ou pra um churrasco de amigos em Magalhães Bastos. Não. Cinema/restaurante/motel/depois-te-ligo.

Então eu larguei ficção e comecei a olhar - de novo - pra não-ficção. Comecei a olhar para a minha estante, onde dormem inúmeras biografias que eu não terminei de ler (a de Mao Tsé-Tung foi a última). Meus livros de Carl Sagan, herói da minha infância e que chorei a saudade revendo "Contato" esses dias. Georges Duby, Eric Hobsbawn, Peter Singer, Jean Baudrillard, Roland Barthes (dele, apenas a introdução de "A câmara clara" é o que levarei comigo, porque a idéia contida em "vi os olhos que viram Napoleão" é uma das que me perturbam a cabecinha desde meus oito anos) e outros. E foi Michio Kaku e "A física do impossível" que me fisgaram com pouca linha e quase nenhuma isca na feira do livro ali do Largo do Machado.

Canela, orégano, salsinha, cravo, noz moscada. Estrelas, costumes, guerras, fotografia e o olhar do homem. Qualquer coisa, por mais boba que seja, muda o sabor e o rumo da vida.

10 comentários:

André disse...

Hm, em ficção eu recomendo o 'Reparação', que por sinal eu não ainda terminei de ler. É bonito. E você já deve ter lido, como tudo o que eu conheço.

Em divulgação científica, deviam lançar algum livro bom sobre as brincadeirinhas que andam pesquisando com relação a multiversos e cordinhas e essas coisas. Pelo menos no Brasil não achei nada... pelo menos não pra quem gosta dos conceitos e não das contas. De qualquer jeito estou doido pra ler o 'Breve história do tempo' (título que por sinal tem uma relação engraçada com o nome do seu blog), mas nem sei se é bom.

Suzana Elvas disse...

É muito bom, André, principalmente porque ele foi revisado, ampliado, virado do avesso pelo Stephen H. Só acho que você talvez o ache muito aquém do que já sabe. Ele é muito iniciação; foi um dos primeiros, assim como "Cosmos", do Sagan - que, aliás, você já leu?
Bjs

André disse...

Não, só vi a série, mas muuuito tempo atrás. Acho que o negócio é procurar algo na amazon mesmo, nos EUA a moda pegou.

. disse...

Hey, hey, leia "História do Medo no Ocidente", do Delumeau. A biografia do Ballard também. E "Dentro da Baleia", do Orwell. Eu sigo finalizando meu Hatoum e pensando no que virá depois.

Suzana Elvas disse...

"A história do medo" já li, e confesso que se não desgostei não me deixou aquela marca.

E o que veio depois foi a sua aprovação, né dona Deh?
:o)

. disse...

Conversando com D.C. na volta do mercado lembrei do Ariès, "O homem diante da morte" (ABNT q não me veja digitando aspas nos títulos, aff). Deu vontade de reler, só tenho um dos volumes.

cris disse...

querida, eu amo não-ficção. biografias, livros sobre física quântica para amadores, essas coisinhas. no reino da não-ficção eu recomendo 'the duty of genious' do ray monk, biografia de quem? de quem? dele, o meu austríaco mais que amado, wittgenstein. se você não leu, leia, suzanita. recomendo muito. de resto, você é muito mais leitora do que eu e, tirando os livros especializadíssimos de filosofia da linguagem, eu não saberia o que te recomendar. beijos

Suzana Elvas disse...

Cris, você leu, afinal, "O atiçador de Wittgenstein"?

André disse...

É dele aquela história do 'me dê uma afirmação sobre ética que seja objetiva' ou algo parecido?

Suzana Elvas disse...

Não faço idéia, André. Dona Cris deve saber - a tese de doutorado dela é sobre o homem.