quarta-feira, abril 02, 2008

Festa de debutante



A primeira mensagem de correio electrónico (e-mail) indesejado foi escrita a 1 de Maio de 1978 e distribuída no dia 3. As reacções negativas não se fizeram esperar, mas, quase 30 anos depois, o spam generalizou-se. Agora, foi apresentada a maior queixa judicial contra os spammers.

O termo spam surgiu em 1937 como marca de carne enlatada, nos Estados Unidos. Em 1970, num episódio da série humorística inglesa Monty Python's Flying Circus, um casal cai do céu para tomar o pequeno-almoço num café mas qualquer prato proposto pela empregada tem sempre a tal carne enlatada. A mulher recusa-se a comer e quer outra coisa. Pelo meio, um grupo de vikings interrompe-os várias vezes com o refrão "Spam, spam, spam". O termo é referido 132 vezes num episódio de apenas três minutos e meio, segundo conta a Wikipédia, e até os créditos finais do episódio - disponível nalguns sítios Web de vídeo - incluem dezenas de vezes o mesmo termo.

Era o suficiente para enjoar o spam mas a ligação entre o nonsense britânico e o correio electrónico indesejado não foi linear. A única relação é ficar-se farto de algo que não se quer.

Oito anos depois, quando o primórdio da Internet se chamava ARPAnet (a ARPA foi o braço militar para a investigação e desenvolvimento nos EUA e dinamizadora da criação da rede informática entre militares e sistema científico), Gary Thuerk, um publicitário da empresa Digital Equipment Corporation (DEC) enviou a 3 de Maio uma mensagem para todos os endereços de correio electrónico da ARPAnet da costa oeste dos país (ver em www.templetons.com/brad/spamreact.html). A empresa acabara de apresentar o novo computador DEC-20 na costa leste e pretendia convidar os interessados para a apresentação na Califórnia.

"Nessa altura, existia uma listagem impressa de todos na Arpanet que eles usaram como fonte para a lista", explica Brad Templeton, actual presidente da Electronic Frontier Foundation e que compilou um historial sobre as origens do spam.

No caso DEC, como a rede só podia ser usada para fins científicos e educativos, Thuerk levou um puxão de orelhas, apesar de considerar que não estava a fazer nada de errado, e o spam desapareceu durante 15 anos.

No final de Março de 1993, Richard Depew tentou integrar alguma moderação nos newsgroups (fóruns temáticos electrónicos onde todos podiam escrever), para evitar que se publicassem textos que nada tinham a ver com o tópico principal. Por engano, acabou por enviar 200 mensagens para os administradores destes grupos e surgiu pela primeira vez o termo spam ligado às novas tecnologias.

A generalização do termo prossegui em 1994 quando, em Janeiro, os newsgroups receberam uma mensagem a anunciar a chegada em breve de Jesus. Mas as principais reacções e debates ocorreram em Abril quando dois advogados, Cantor e Siegel, colocaram em simultâneo uma mesma mensagem publicitária em mais de 6000 newsgroups. O caso deu que falar por se questionar a legitimidade do feito mas também a liberdade de expressão. Podiam eles expressarem-se, mesmo sob forma comercial, na Internet? E, em termos de privacidade, porquê ser obrigado a receber coisas que não se querem?

Desde então, as coisas só pioraram. Em Novembro de 2006, calculava-se que o nível de spam atingia os 80 por cento em todo o correio electrónico. "No início do ano, viam-se 50 mil mensagens de spam por dia, agora são 100 mil", explicava John Levine, presidente da consultora Taughannock Networks e co-presidente do Anti-Spam Research Group da Internet Research Task Force. [...]

Pedro Fonseca, Diário de Notícias
(publicado em 6 de maio de 2007)

Um comentário:

rnt disse...

gostei desse texto. e sempre achei que a gente devia ter um anti-spam pra certas coisas na vida. canais indesejados na tv. telefonemas. carros de som. filtros contra a chatice da repetição indesejada! ;)