Envelhecer - no sentido de acumular anos - é um processo externo; cada dia tenho mais certeza disso.
Hoje, saindo de uma reunião na Praia do Flamengo, vi que o Giotto acabou. Pra quem não sabe (quase todo mundo): o Giotto era um restaurante italiano acanhado, mais velho que o tempo e que servia uma massa fresca divina. Foram muitos os domingos que meu pai encostou o opala vinho (de capota marfim) ali e, rapidinho, enquanto ficávamos no carro com minha mãe, pedia talharim, nhoque e massa de lasanha para minha avó preparar no almoço. O cheiro da farinha de trigo é uma das muitas marcas que ficaram da minha infância.
Pois o Giotto acabou. Assim como a Wilsonking, oficina mecânica e concessionária de carros Volkswagen que foi inaugurada um ano depois que meus avós nasceram (o slogan, pintado num muro, dizia: "Desde 1911, com você!"). Agora será um megacondomínio, estilo pombal. Como os sobrados da Rua da Passagem, que cedem lugar para os mais sujos e medonhos prédios da Zona Sul do Rio. Como a padaria em frente ao prédio dos meus pais - Flor de Laranjeiras (por que as padarias são sempre "flores"?), que virou uma lanchonete de cores chocantes para onde o povo, bêbado, ruma de madrugada. Como a quitanda Tirrênia, que ficava no comecinho da Rua Marquês de Abrantes, cujo dono, um português mal-educado que só, cobrava as frutas por quilate. Mas que frutas eram... Dignas de capa de revista.
A infância, a juventude da gente vai ficando então guardada no clichê da memória; volta quando contamos aos filhos "Mamãe vinha aqui todo domingo comprar macarrão feito pelo próprio cozinheiro."
Eu sempre choro quando isso acontece. Deve ser a idade.
quinta-feira, abril 10, 2008
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3 comentários:
Suzana,
Nem sempre essas perdas são pra gente mais, digamos, entrada nos anos. Dia desses passamos pelo que foi o jardim de infância da filhota. A escola é antiga (pelo menos para os padrões candangos, mais de 30 anos) e o prédio antigo está sendo demolido. A bichinha ficou numa tristeza...
Fico triste quando minhas memórias, ao serem contadas aos "filhotes", perdem seu valor....conto coisas que me emocionam e escuto um "aham"!Dói um pouquinho, mas fazer o que né? Talvez tenha mais sucesso com os netos, vou esperar mais uns vinte anos....
EU TE AMO!! é tudo o que posso dizer
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