Eu tinha cinco anos - meu primeiro ano na escola. Jardim de infância. Uma época em que os pátios viviam repletos de mães, avós, babás a levarem e buscarem as crianças da família.
Eu tinha cinco anos e ia comemorar meu aniversário na escola. Eu não guardei nenhuma imagem do que aconteceu - não há nenhuma foto - mas a história me foi contada tantas vezes que eu, qual menina que ainda não sabe ler, criei dentro da minha cabeça o cenário e imaginei os personagens.
Eu tinha cinco anos e ia comemorar meu aniversário na escola pela primeira vez. Ao contrário da minha mãe, que detesta cozinhar, meu pai colecionava dezenas de livros sobre culinária e, sempre que possível, ia às panelas. E foi num desses livros que ele encontrou o bolo: um castelo. Torres de casquinhas de sorvete. Paredes de waffles. Gramados de jujubas verdes. Portões de biscoitos de chocolate. Janelas de bolachas de maisena. Um castelo de contos de fadas.
Eu tinha cinco anos, e para comemorar meu aniversário na escola meu pai, especialmente naquele dia, me acompanhou até a sala de aula. Ele contava que, andando com aquele gigantesco, extraordinário e inesquecível bolo nos braços, foi precedido por uma menina gordinha, saltitante em seu uniforme escolar de xadrez miúdo azul e branco e sapatos vermelhos de verniz, a cantarolar: "Papai que fez meu bo-lo", "Papai que fez meu bo-lo", "Papai que fez meu bo-lo". O único homem entre as dezenas de mães, avós e babás a rirem da situação.
"Morri de vergonha", ele dizia, encabulado, toda vez que terminava de contar esta história. Mas olhando nos olhos dele, eu sabia que era mentira: para ele, era motivo de orgulho ser o pai que fez o bolo mais encantador e mágico que uma menina de cinco anos poderia querer.