segunda-feira, abril 08, 2013

A cada 5

Os dias - as datas - nunca significaram muito pra mim. Claro, aniversário de filho é especial, mas nunca dia nenhum me fez parar e pensar sobre o caso. Desde o ano passado, é o dia 5.

A cada dia 5 do mês eu penso em como o tempo avança, apesar e a despeito do que possamos fazer para que isso não aconteça. A cada dia 5 eu me sinto mais velha, mais alquebrada. A cada dia 5 eu conto as rugas nas minhas mãos, as dobras nos cantos dos meus olhos, o cansaço nos meus cabelos brancos. Em quanto eu pareço mais encurvada, e cansada, e esquecida.

A cada dia 5 eu olho pra as minhas filhas e vejo duas mulheres em formação, um quadro que se delineia com mais clareza mostrando como uma e outra serão. Eu olho para o cachorro que me restou e conto quantas vezes ela respira. Fico nervosa se o suspiro é mais profundo e o resfolego demora a responder.

A cada dia 5 eu entro em pânico ao constatar nos dedos das mãos que minha mãe não liga há exatos quatro dias. E ponho-me a fazer contas para me lembrar, de novo, quantos anos ela tem: 2013 - 1939 = 74.

A cada dia 5 eu me lembro do meu pai, que foi embora depois de três suspiros no dia 5 de dezembro de 2012.

E eu sinto tanto a falta dele.
Tanto.

6 comentários:

Moema disse...

Duro dizer isso, mas tenha calma. Aos poucos a dor aguda dara' lugar uma dor mais mansa. Em compensacao as lembrancas ficam mais e mais cristalinas. So' posso dizer: Forca, um novo dia bate a porta.

K disse...

A cada ano o tempo passa mais velozmente.Quando assusto, ja é novamente segunda. So comecei a perceber a passagem inexoravel e veloz do tempo depois de adulta mas outro dia, Jujuba que tem 10 anos, assustou porque ja estamos em abril.

Patrícia Siciliano disse...

Sinto falta do meu pai à medida que respiro. Já se foram quase 7 anos. A dor deu lugar a um sorriso, quando me lembro dele, e nunca desisti dos meus diálogos imaginários com o que dele ficou em mim.
Eu me sento no volante, e desligo o rádio. E a gente conversa.

Suzana Elvas disse...

Pat, tô chorando aqui. Porque eu faço a mesma coisa. Peço permissão pra usar as ferramentas dele. Pergunto se estou certa ou errada. Converso longamente com ele sobre decisões que tenho que tomar.

Porque dentro da gente eles, os pais, nunca vão embora, né?

Anônimo disse...

Estou vendo os meus pais indo embora pouco a pouco. minha mãe, sobretudo, que agora está com um mioma e aguardando a permissão do SUS para fazer cirurgia.
Os tempos andam difíceis, péssimos. Os dias vão embora, mas em momentos difíceis, cada segundo parece desperdício.
Abraços, fique bem.

Simone H. disse...

Parece clichê mas, a dor abranda com o passar do tempo, aos poucos tu vai conseguir lembrar sem chorar e o aperto no peito será menor, mas será sempre presente.