segunda-feira, abril 25, 2011

Arqueologia



Em três meses farei 45 anos. E por menos que eu aparente (e nessa fase, confesso, estou acumulando, no meu rosto, anos em dias) certas coisas me cansam e me roubam a ilusão de que não, meu bem, a idade não está só na sua cabeça.

Ontem de manhã estava conversando com a professora de artes das meninas. E ela estava lamentando como certos trabalhinhos (parte da minha, da sua, da nossa infância) hoje em dia são impossíveis de serem feitos pelas crianças. A aguada, que é a técnica de se rabiscar num papel com giz de cera branco e depois colorir com guache por cima, é a mágica que não acontece mais porque o giz de cera não é mais de cera. Então, quando as crianças pintaram de azul o papel absolutamente nada apareceu.

Ela me mostrou uma outra técnica, o de desenhar com pilot uma folha embrulhada em papel celofane. Você já tentou fazer isso? O celofane não absorve a tinta como antigamente porque a celulose original tem sido substituída por plástico - então a tinta do pilot fica ali, pronta pra ser borrada e manchar braços, cotovelos e mãos.

A minha infância, de maneira silenciosa e despercebida, morreu antes de conseguir alcançar a das minhas filhas.

Um comentário:

Juliana disse...

Cara, eu amo esse teu blog - amo muitão mesmo.
Entro aqui sempre, já passei várias horas lendo um montão de posts e chorando e rindo e ficando encantada.

Toda vez que eu vejo que vc postou, já me preparo pra sentir aquela pontadinha no peito que seus post provocam em mim.

Rasgação seda gratuita,né? =p Mas eu fico encantada mesmo.

beijo