domingo, fevereiro 21, 2010

Um flash

Uma das coisas que eu me prometi esse ano: juntar dinheiro pra comprar uma máquina fotográfica. Mesmo que seja de segunda mão. Aí eu quero fazer um blog com as minhas fotos.
Eu era boa. Muito boa.
Palavra.

Tudo igual

A pior coisa do mundo é esse começo de ano. Quando embala aí vem carnaval - e, é claro, tem recesso a semana toda - e começa a acumular roupa suja, roupa para passar, trabalho, é caderno e livro que não acaba de comprar e de encapar que puxa vida, tô morta.

Por isso é que quando alguém diz "Segunda começa tudo de novo" eu só tenho uma coisa a dizer:

Graças a Deus.

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Carteira de ações escolares

Livros: R$ 1378
Material de papelaria: R$ 965
Uniformes: R$ 280

Total: Somem vocês.
Eu ainda estou em choque com o que gastei com as meninas nessa volta às aulas.
E ainda falta o material comunitário. Que eu, elegante e firmemente, ou comprarei em suaves e eternas prestações ou me farei de phina & sonsa e não comprarei.

Porque, afinal, ou eu equipo uma filha ou equipo a outra - uma delas tem que vender bala no sinal pra ajudar a pagar essa conta.

Fervura

40ºC
Sensação térmica: 50ºC
Umidade relativa do ar: 30%

Vou começar a entrar em sites de relacionamento profissional e pessoal do Canadá, da Finlândia, da Noruega...

Porque, sabe, eu ODEIO calor.
Um pouco mais do que detesto ar-condicionado.
Então já viu, né?
Lascou-se.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

O dia de hoje

Eu poderia me alongar e dizer que o cara não foi - faltou à audiência de conciliação. Ou melhor, chegou 40 minutos atrasado. Só olhei para ele 2 segundos, literalmente, mas esses dois segundos me tragaram numa onda de mal estar que perdurou até a noite.

Eu poderia dizer que sinto a sua falta e de conversar com você. Só isso - sinto a sua falta.

Eu poderia comentar inclusive que enfiei um sonho de valsa inteirinho na boca, dentro do elevador - e antes que a porta se fechasse o presidente da editora entrou e deu bom dia. E a careca dele brilhava de tão divertido que ele estava por me ver constrangidíssima, tentando mastigar, engolir, sorrir e falar ao mesmo tempo - sem a jaqueta de chocolate em cima dos dentes.

Mas o que eu queria dizer mesmo tem a ver com o que eu vi, hoje, descendo a ladeira no fim do dia: como é gostoso ver meninas brincando de boneca. Eu brinquei muito, mas hoje não tenho paciência. Mas observar como se deixam absorver pelo papel que representa ali é arrebatador - a menina não brinca, ela É a boneca.

Eu perdi essa magia. Não sobrou nenhuma, e Zé Colméia e Catatau, que sempre me cobram participação mais ativa nos chás dançantes da Barbie, levarão essa mágoa de sua mãe por toda a vida adulta. Que elas não percam essa magia, também.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

...

Amanhã, perto da hora do almoço, vou rever meu vizinho. É a audiência com o promotor público. Desde ontem sinto uma onda de mal estar, aquela sensação de impotência, de solidão, de saudades dela. A minha mão procurando por outra sem encontrar nada nem ninguém.
Ele também fez BO contra mim. "Perturbação de tranquilidade".
Eu quero minha paz de espírito de volta.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

A sentinela do abismo

... Fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto – quer dizer, ninguém grande – a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.

Ninguém que tenha lido a obra-prima de J.D. Salinger poderá se esquecer da cena em que Holden, tarde da noite, resolve visitar a irmã, entrando sorrateiramente no apartamento para que seus pais não o vejam. Por sorte, eles haviam saído e Holden tem uma longa conversa com Phoebe, que não demora a descobrir que ele havia sido expulso da escola, reprovado em todas as matérias com exceção de inglês. Com a sensatez imbatível das meninas de dez anos de idade, a irmã o acusa de não gostar de nada e, tendo Holden a duras penas conseguido dizer que gostava do Allie (um irmão já morto) e de estar ali conversando com ela, Phoebe exige que ele diga o que gostaria de ser quando crescesse.

A resposta reproduzida acima, além de típica do estilo coloquial empregado com tanto êxito por Salinger para caracterizar o rapazote de dezesseis anos, sintetiza os dois traços centrais do personagem: sua recusa em aceitar o jogo dos adultos, representada pela escolha estapafúrdia do que faria ao crescer, e o amor ao próximo, aqui simbolizado pela preocupação em evitar que as crianças caiam no abismo (mas também presente mesmo no último parágrafo do livro, quando Holden diz sentir saudades até das pessoas que lhe fizeram mal). Nesse sentido, nada mais justo que Salinger retirasse de tal passagem o título de seu livro.

Muito justo, sem dúvida, mas se ponha na pele de Álvaro Alencar, Antônio Rocha e eu, já lá vão quarenta anos, tentando passar para o português "The Catcher in the Rye". Apanhador, palavra horrorosa que, segundo os dicionários, se aplicaria a quem colhe os grãos de café ou extrai o látex da seringueira, embora no linguajar corriqueiro só seja usada para designar um gandula. Centeio, quando muito, lembrava um tipo de pão àquela época pouco consumido por estas bandas; mas quem jamais teria visto um campo da tal gramínea? Não, intitular um livro "Apanhador no campo de centeio" seria como dar algum nome esdrúxulo a uma bela criança, seria condená-lo à mais absoluta rejeição.

É verdade que o título também não fazia muito sentido mesmo no idioma do autor. Para todos os efeitos práticos, a palavra catcher em inglês se refere àquele jogador de beisebol cujo rosto está sempre coberto por uma máscara e que, agachado atrás do batedor, fica pegando as bolas atiradas pelo lançador (ocupando assim, aparentemente, a posição mais besta de qualquer esporte se ao “apanhador” não coubesse também a responsabilidade crucial de indicar onde a bola deve ser lançada com base nas características do batedor). A segunda parte do título só é explicada na própria conversa de Holden com Phoebe, quando ele lhe pergunta se conhece a cantiga "Se alguém agarra alguém atravessando um campo de centeio". Phoebe o corrige, dizendo que o certo é "Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio", e ainda acrescenta que é baseada num poema de Robert Burns. De fato, trata-se de uma conhecida cantiga de crianças, mas, até mesmo devido ao "erro" de Holden ao trocar os verbos, jamais encontrei uma única pessoa nascida nos Estados Unidos que tenha feito de estalo a ponte mental entre a musiquinha e o título.

Voltando ao nosso drama lingüístico, fizemos longas listas de títulos alternativos até encontrarmos "A sentinela do abismo", em que respeitávamos tanto o contexto quanto o conceito. Heureca! Que nada, a alegria durou pouco. Da agente literária de Salinger veio a ordem ríspida: ou se vertia o título literalmente ou era suspensa a venda dos direitos de tradução. Ordens do autor. Em vão tentei explicar por carta que a expressão era virtualmente ininteligível no vernáculo. Aproveitando uma ida a Nova York, obtive a graça de uma entrevista com a agente, pois já então era de todo impossível comunicar-se com o próprio eremita de New Hampshire. Nenhuma chance de revisão da sentença, porém ao menos fiquei sabendo que Salinger entrara em órbita ao tomar conhecimento de certas versões dadas ao título que lhe devera ter custado imensas dores de parto.

Com base em três delas que vim a conhecer mais tarde, passei a dar toda a razão ao autor. Senão vejamos.

Em espanhol, saíram-se com "El cazador oculto", obviamente por conta da menção a um campo e ao fato de que o Holden adulto nele estaria escondido para não comprometer a espontaneidade das crianças ao brincarem. Mas que extraordinário exemplo de insensibilidade do tradutor ao não perceber o quanto a idéia de caçada e de morte era antagônica à mensagem que o título buscava transmitir!

O francês nos brindou com "L’attrape-coeurs", que corresponderia em português a um abominável Pega-corações. No entanto, quando a língua de Racine já tem consagradas as expressões attrape-mouchesattrape-nigaud (prima-irmã de nossa "pegadinha"), dá para questionar a qualidade da versão gaulesa independentemente de sua dose excessiva de açúcar.

E, por fim, a mais notável, inclusive por demonstrar a desistência do tradutor português – recurso ao menos rechaçado pelos coleguinhas de Espanha e França – de extrair o título da rica contextura em que o original o situara. Pois bem, o ilustre sr. João Palma-Ferreira tascou "Uma agulha no palheiro" (na melhor tradição do conterrâneo que batizou o "Psycho" hitchcockiano de "O filho que era a mãe")! Todavia, desconfiando de que não havia mesmo nenhuma relação entre o fundilho das calças e o orifício por elas protegido, ofereceu à posteridade uma Advertência cujo sabor só pode ser apreciado mediante sua reprodução integral: "O título português do romance de J.D.Salinger 'Uma Agulha no Palheiro' foi especialmente escolhido tendo em atenção a singularidade expressiva desta frase comum portuguesa (sic) e não corresponde à nem pretende ser a tradução do título original norte-americano: The catcher in the rye, para o qual foi sempre difícil encontrar uma forma suficientemente alusiva e gramaticalmente correcta em todas as que ocorreram ao tradutor. Supõe-se, pois, que, sem fugir ao que o escritor pretendeu (sic), o título da edição portuguesa marcará incisivamente o espírito deste livro admirável."*

Seja como for, ao fim e ao cabo a edição brasileira estampou a tradução literal, ainda que amenizada por breve nota onde se lia: "Os três jovens diplomatas brasileiros que fizeram a presente tradução escolheram o título 'A Sentinela do Abismo'. O Autor preferiu, entretanto, o título 'O Apanhador no Campo de Centeio'." O que, pelo jeito, não atrapalhou em nada, se é que não serviu para tornar ainda mais indelével a marca do livro na memória do leitor. As vendas continuam firmes, ano após ano, mesmo depois que o tresloucado assassino de John Lennon foi apanhado com um exemplar da obra. Que aqui no Brasil passou a ser carinhosamente chamada de Apanhador.

E você, já leu "O Apanhador"?

* Há outras coisas imperdíveis nessa tradução lusa. Quando o Edgar Marsalla quase manda pelos ares o teto da capela onde os alunos eram obrigados a ouvir o discurso do agente funerário e grande benfeitor do colégio, seu “peido infernal” (terrific fart) se metamorfoseia num “tremendo arroto”. Quando Holden se enfurece com os palavrões que vê escritos nas paredes da escola da irmã e do museu, os muitos "Foda-se" se transformam em pálidos "Vai à merda". Graves problemas de sinonimia ou de anatomia?

Jorio Dauster (que traduziu "O apanhador no campo de centeio" para o português com Álvaro Alencar e Antônio Rocha, fala da dificuldade de verter o título original da obra, The catcher in the rye)
Prosa & Verso - Jornal O Globo
29 de janeiro de 2010

Mater

As meninas usam na escola potes de sorvete para guardar, no banheiro, o material de higiene: xampu, condicionador, sabonete, esponja de banho, pente & escova.
Eu sempre mandei o branco. Foi quando eu vi, na geladeira do supermercado, que tem agora um sorvete (dois litros) cujo pote é rosa.
E então eu, há dois dias, só tomo sorvete. Em todas as refeições.
Café da manhã. Merenda. Almoço. Lanche. Jantar. Ceia.
O segundo pote está no finzinho. Bem na hora.
As aulas recomeçam depois da manhã.
E eu também não estou aguentando mais.

E não, eu não pensei o óbvio: virar o sorvete em outro pote. Não até hoje de manhã.
Excesso de chocolate no cérebro.
Sorry.