sexta-feira, dezembro 18, 2009
Alvorada
Sentada à mesa do café, estava conversando aquela prosa sonolenta de todos os dias com Zé Colméia. Então, mexendo a xícara de café e ouvindo-a contar uma história muito complicada sobre o castigo que uma amiguinha levou por ficar em prova final (sim, ainda existe isso) parei a colher no ar e olhei para cima, para minha filha. E foi como se eu a estivesse vendo pela primeira vez.
Ela falava e gesticulava. Os olhos grandes, o cabelo desgrenhado, os dedos finos nas mãos pequenas. Era a minha filha. E não era. O cadenciamento da voz mudou; agora ela fala meio que correndo, à moda dos adolescentes. As gírias estão ali, ainda empregadas de maneira tosca - são as colagens do que ela ouve da meia-irmã de 18 anos. O tom meio agressivo de quem se julga portadora de toda a sabedoria do mundo, a certeza sedimentada por longos 10 anos de vida. O rosto que está se afinando, a voz rascante que não se tornará redonda jamais. Era ela e não era.
É duro acordar pra vida assim.
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4 comentários:
Encontrei teu blog por acaso. Parei para ler algumas de tuas palavras porque vi ali escrito "parir é gerar saudade". E fiquei pensando... De certa forma, já pari. Mas a vida agora parece-me morta. Uma voz nem tão fina, mas não menos inquisidora arrebentou meus ouvidos há pouco. "Era ela e não era".
Eu já levo sustos desse tipo com Ninotchka.
ai meu Deus... já vejo mudanças tão grandes em minha filha de 4 anos, e fico imaginando como será quando ele estiver com 10... acho que as mães nunca estão preparadas para isso
FELIZ NATAL!!!
Pra vc e pras suas pequenas :)
beijos
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