sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Eu invejo...

Quem carrega sua própria trilha sonora, por todo o dia.
Quem pinta as unhas dos pés com esmero.
Quem fica bem usando sandálias.
Quem tem paciência para brincar com os filhos.
Quem precisa de poucas horas de sono a cada noite.
Quem se conforma.
Quem não espera por nada - nada, mesmo; nem lá no fundinho do mais remoto canto do coração.
Quem compra um livro cada vez que entra numa livraria.
Quem sabe quem é quem no mundo da música hoje.
Quem se atualiza, sempre.
Quem freqüenta a Modern Sound. E compra coisas lá.
Quem sempre sabe a diferença entre.

Noves dentro



Esse é o meu bisavô. Ele vive numa caixa de madeira debaixo da terra. Não fala muito e também cheira mal - mas é muito animado pra se brincar num tanquinho de areia.

Roubei da .

Noves fora

Catatau na sala de aula, fazendo a página de rosto do seu caderno de Estudos Sociais; o tema era "Sua família". A professora vai conferindo os trabalhinhos. Na folha do caderno, caprichosamente colorido, Catatau desenhou uma casa e, na frente, três figuras femininas: uma mais alta, uma mais baixa e, de mãos dadas com essa, uma pequenininha.

- Não está faltando ninguém nesse desenho?
- Não, ué. Tem a mamãe, a [...] e eu.
- Você tem certeza? Não está faltando ninguém da sua família?
- Hum... É, tá sim.
[...]
- Pronto, agora acabei. Não tá faltando ninguém.

E na janela da casa desenhada, a professora viu... minha mãe e meu pai, acenando para nós.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Protocolando*



Listen, baby
Ain't no mountain high
Ain't no valley low
Ain't no river wide enough, baby

If you need me, call me
No matter where you are
No matter how far
Just call my name
I'll be there in a hurry
You don't have to worry

'Cause baby,
There ain't no mountain high enough
Ain't no valley low enough
Ain't no river wide enough
To keep me from getting to you

Remember the day
I set you free
I told you
You could always count on me
From that day on I made a vow
I'll be there when you want me
Some way, some how

'Cause baby,
There ain't no mountain high enough
Ain't no valley low enough
Ain't no river wide enough
To keep me from getting to you

Oh no darling
No wind no rain
No winter cold can stop me, baby
No, no darling can't stop me, baby
'Cause you are my own
If you're ever in trouble
I'll be there on the double
Just send for me oh baby.

My love is alive
Way down in my heart
Although we are miles apart
If you ever need a helping hand
I'll be there on the double
As fast as I can

Don't you know that
There ain't no mountain high enough
Ain't no valley low enough
Ain't no river wide enough
To keep me from getting to you

Don't you know that
There ain't no mountain high enough
Ain't no valley low enough
Ain't no river wide enough




* Que esse desejo se realize - e isso vale pra mim, também :o)

Horizonte de eventos

Dois amigos que moram no exterior me mandaram coisas, ambos na mesma época: primeira semana de dezembro. O dos Estados Unidos me enviou um CD que me dei de Natal; o outro, que mora sei-lá-onde da África, onde é veterinário-aprendiz numa reserva selvagem, achou um livrinho maravilhoso de lendas africanas em inglês e mandou para as meninas.

O livro enviado das profundezas do ínicio dos tempos do berço da humanidade chegou perto do Natal. O CD vindo diretamente da contemporaneidade do moderno pró-século XXI ainda não deu as caras.

...

Quase a metade do dia se foi e eu não fiz absolutamente nada. Não tenho nada para fazer - nenhum trabalho, nada. Ouvindo pouca música e todos os meus nervos lenta e inexoravelmente se despedaçando só de lembrar nas contas a pagar a partir da semana que vem.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Anéis

Há pouco o dono do sebo veio buscar mais 150 livros.
Rapaz, como dói. Mesmo com a certeza que muitos deles eu jamais vou sequer abrir, doeu. Eu ainda salvei alguns, mas eu tive que deixar levarem todos. R$ 250 por livros novos, cheirando a livraria, ainda. Sem sequer dobra na capa.
Judas, prazer.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

...

Tem dias que eu, sei lá.
Não estou a fim.
E, pelo que eu estou vendo nos outros blogs, muita gente também não está.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

...

Desde que me separei, num momento tive que começar a me desfazer de coisas que para mim eram parte do que sou. Na semana passada vendi as minhas últimas jóias. Não tenho mais plano de saúde, e para continuar um tratamento caro tive que dar adeus à herança deixada pela minha avó paterna. Elas não foram as primeiras: para pagar a escola me desfiz, há alguns meses, do que minha avó materna me deixara.

Se há um aprendizado que eu jamais esquecerei - sendo a próxima ganhadora da megasena ou não - é que a gente chora e sente dor, mas o material é só isso: material. E não falo aqui da vertente espiritualista; falo de comida na mesa dos nossos filhos. Entre ter o que oferecer às minhas meninas no almoço e usar o colar de pérolas da minha avó, não há o que pensar.

Assim, já foram para a panela minhas jóias, meus livros antigos, CDs, DVDs, LPs, revistas em quadrinhos dos anos 70/80, aparelho de som, TVs, uma cama, dois colchões, antiguidades, roupas, sapatos, eletrodomésticos e miudezas sem conta. Hoje, um especialista veio buscar a coleção de moedas do meu avô - pagando, tenho certeza, uma ínfima parte do que ela realmente vale. Mas minhas filhas precisam comer.

E eu fiquei deprimida, claro. Chorei muito e me castiguei devorando um pote de sorvete de dois litros. E foi assim, com a garganta apertada e a boca cheia, que eu li, no blog de uma querida companheira de viagem - na web e na maternidade - que ela acabara de perder a mãe. Nessas horas, então, de nada valem moedas de prata do tempo do Império, pulseiras de ouro branco e platina, uma edição rara dos Lusíadas ou a coleção completa da obra de Billie Holiday.

Não valem nada, não adiantam pra nada, não significam coisa alguma. Não servem pra tapar o rombo imenso e dolorido que a gente sente quando alguém foi-se e nada podemos fazer.

Eu não sei o que dizer, Angélica. Aliás, comecei a escrever qualquer coisa nesse post pensando ainda como dizer o quanto eu sinto - e o quanto essa frase ("Eu sinto muito") é vazia. Eu sempre explico às meninas a cadeia natural da vida - vão-se os avós, depois os pais e então elas mesmas, mas aí elas já terão seus próprios netos para repetir a seqüência. Sua mãe conheceu sua filha - assim como minhas pequenas conheceram os avós, e por isso eu me regozijo. Mas sei que nada disso aplaca a dor ou dá importância ao que está à nossa volta. Nesse mar de escuridão fria que nos envolve, apenas uma luzinha mostra o caminho para voltar: nossos filhos.

Então, querida, que Joana ilumine sua volta. Estamos aqui, afinal de contas, por causa deles. E, provavelmente, sua mãe sabia disso. Todas as mães sabem.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Rabugice

Sexta-feira: depois de um dia de trabalho, tento chegar em casa via Túnel Santa Bárbara e encontro um congestionamento de 3.485.855.059.9,98 quilômetros - gente indo viajar, carros alegóricos chegando, preparativos do sambódromo. Aí corto caminho ali pelo meio do Morro da Coroa (sim, desespero é isso) e encontro o Largo das Neves fechado de tantos carros estacionados - em cima das calçadas, em cima dos trilhos do bonde. E um bloco não-identificado cheio de bêbados.

Tento pela Lapa: os bêbados e os blocos não-identificados já estão esparramados antes do Passeio Público. E um percurso que eu faço em 10 minutos a R$ 10 me custou, com as meninas, uma hora e 40 minutos e R$ 50.

Odeio carnaval.

...

Só uma mãe pode entender quão lógico e real é entrar numa papelaria (a escolhida depois de uma longa e cuidadosa pesquisa de preços) e gastar R$ 240 em canetas e lápis. Só isso: canetas e lápis.

Muffia



Roubei da Naomi.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Viver é



Perder três quilos em uma semana. E odiar isso.

Ter tantos cabelos brancos quanto possível.

Ver como os homens mais velhos e os mais novos reparam em você. Mas nunca os da sua idade. Esses estão ocupados olhando as meninas de 18 anos.

Descobrir que tem exatos 20 anos em roupas no seu armário. Incluindo uma camiseta do Police no Brasil - a primeira vez - e uma do lançamento do 386.

Levar um olhar 43 de um cara extremamente palatável no meio da testa. E tropeçar nas próprias pernas e se estabacar na escada. Na frente dele. E soltando um "Uia!" pra completar.

Começar a associar cheiro de chuva recém-caída com solidão.

Querer desesperadamente transar. E o único amigo disponível que poderia quebrar o teu galho - aquele amigo lindo, maravilhoso, carinhoso, que te acompanha nas maiores roubadas, que mora a dois bairros de distância... Bom, ele tem namorado. Que também é lindo.