Eu pensei muito no que postar aqui esse ano. Quer dizer, ultimamente as pessoas vêm aqui e só lêem desgraças. E fazendo um balanço, me lembrei da primeira vez em que pisei num consultório de terapia - o que, confesso, me afugentou pra sempre de QUALQUER consultório de QUALQUER terapeuta/psicólogo/analista.
Eu e meu ex fomos lá porque a minha então enteada, filha dele do primeiro casamento, foi pega roubando na escola. Marquei a hora (sim, foi a besta aqui que foi à escola da menina conversar com a diretora; quem pegou a lista de terapeutas recomendados; ligou pra todos e, pasmem, decidiu qual parecia o melhor. Eu, não o pai ou a mãe. Eu, depois de a escola ligar PRA MIM como último recurso, já que nem o pai nem a mãe da menina haviam se coçado, três meses depois do roubo).
Enfim. Marquei a hora e fomos lá para a primeira consulta, eu e meu ex. Conversa aqui e ali, me abri na consulta. Falei o que me incomodava, a maneira como o pai tratava a menina (que eu adoro de paixão), passando a mão na cabeça dela quando ela fazia birra, urrava e esperneava e quebrava coisas e rabiscava tudo em vez de impor limites, a interferência da mãe dela no meu casamento, "despejando" (essa é a exata palavra do que ela fazia com a menina) a filha na nossa casa sempre que queria viajar ou sair à noite etc e tal.
O pai obviamente ficou muito incomodado com a minha franqueza, principalmente porque ele não podia usar o habitual "Sua burra, não é nada disso" na frente da terapeuta. Qual não foi minha surpresa quando a dita vira-se e diz "Você devia cuidar do que diz e não usar essa franqueza crua".
Como? Estamos lá tentando resolver um problema sério - uma menina de 8 anos roubando na escola e sendo pega por TODA a turma na hora em que pilhava a carteira da professora - e tentando descobrir tudo o que a levou a fazer isso (incluindo aí meu comportamento) e eu não devo ser franca? Não devo falar o que me incomoda, o que acontece, o que me chateia, o que está atravessado na garganta?
Não, não pode. Fere os sentimentos do fulano relapso sentado na poltrona ao lado.
Bom, essa divagação toda me leva ao ponto seguinte que parece não ter nada a ver com o que eu escrevi acima. E que é sobre as pessoas que me conhecem... e que me conhecem.
Cris me conhece. Rita me conhece. Assim como Marco, Laerte, Marieta e Pedro, além de outros que aportaram por aqui. Esses sabem quem eu sou, como eu sou; muitas vezes tenho vergonha do que escrevo porque sei que eles vão ler. Pra eles eu sou "Suzana" na tela do computador, mas outra quando eles se lembram da pessoa - eu.
Zé, Solange, Renata, Marília, Ana, Lili, Kattie, Deborah, Maura, Luis, e tantos outros gostam da Suzana. A Suzana Elvas, que escreve aqui muito do que jamais abriria a boca para relatar. Eles, que esbarrariam em mim na rua e jamais saberiam que sou eu, me conhecem como ninguém mais. Porque eles sabem apenas do que vai no meu coração, na minha alma. Não sabem como minha voz é, como me comporto, que cara faço quando rio ou me sinto constrangida. Desconhecem a máscara social que visto até mesmo quando estou me divertindo, bebendo um chope, sentada em silêncio no cinema.
Juliana, Anne, Fernando, Paulo, Ivone, Gisela, Marcela, Peter, Jeremy, Samara, Teresa, André, Luana e outros sabem de mim - alguns faz anos - e não fazem a menor idéia do que escrevo aqui. Do que eu sinto, do que eu penso, do que eu quero. Pra eles, eu sou outra que não Suzana - com ou sem aspas.
Juntando os dois lados do vestido: esse blog é da Suzana, não da outra. Porque se eu tiver que deixar de falar das coisas que me incomodam, das minhas tristezas (que espero 2008 economize na mão) e das minhas aflições, Suzana não terá mais razão de existir.