Eu não sei como isso acontece. Mas sempre que eu estou passando por dificuldades, começo a evitar olhar dentro de mim, e o resultado é que eu começo a notar cada detalhe à minha volta. Hoje, peguei um ônibus para ir ao banco, que fica no shopping. Por todo o trajeto, não conseguia parar de notar os detalhes da vida, que afinal corre mesmo que a maior das tragédias esteja acontecendo com você. Pois não é assim?
Na Praia de Botafogo, uma mulher entrou com as duas filhas. A de colo era grande, já devia ter um ano. As pernas eram tão tortas que os dedos dos pés se tocavam. A cabeça, ovalada, um olhar vazio. De vez em quando, ela balia, como um cordeiro manso que não entende o que está acontecendo.
Todos os passageiros se remexeram, desconfortáveis. A irmã mais velha, com um casaco de napa três números acima do seu, uma calça jeans que viveu dias melhores e havaianas já rotas, segurava a sacola de bebê mal arrumada. E a mãe de cabeça muito erguida, segurando e beijando com carinho seu bebê e as esperanças que um dia ela teve de que sua prole seria normal e rica.
Uma avó com sua neta - que calçava sandálias de saltos tão altos que faziam seus aparentes oito anos parecerem deslocados. O vendedor de amendoim, que falava "Cooooompre minduim, minduim, miiiiiinduiiiiin". O motorista hipnotizado pelo piercing da mocinha que catava moedas para facilitar o troco.
Um sol de rachar, uma mocinha fresquinha num vestido branco. As carrocinhas da Kibon, que quase não se vêem mais. Biscoito Globo, Geneal, carrocinhas de água de coco. Casa & Vídeo, aberta 24 horas no seu Natal.
Quando sou feliz, ignoro o mundo ao meu redor. Ignorante e feliz. Mas eu sabia.
quinta-feira, dezembro 22, 2005
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