quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Miudezas

Velhinhos de Ipanema não são como os outros velhinhos. Não, de jeito nenhum. Eles têm apuro em se vestir. Têm sorrisos luminosos, olhos brilhantes, e são extremamente cavalheiros. Dão passagem, abrem portas, dizem "por gentileza, senhorita" mesmo que você esteja com uma barriga de 13 meses de gravidez.
Eu amo os velhinhos de Ipanema - as velhinhas, porém, usam muita sombra azul. Uma pena.

Como as meninas estão com o pai, comecei a trocar o dia pela noite. Tenho um horário livre, então chego à revista ao meio-dia e agora, nove da noite, ainda estou na redação. Todo mundo foi embora. A noite pra mim sempre foi melhor do que o dia. Meu trabalho rende mais; o que eu amo fica mais atraente à noite, e a sensação que eu estou sozinha no mundo é preciosa. Noites têm cheiro diferente. Sou uma criatura lunar, dizem os astrólogos sobre os cancerianos.

Meu golden retriever de 14 anos está cego de um dos olhos, e mal enxerga do outro. Demora a subir as ancas quando se levanta, mas com que orgulho ele empina as orelhas e late quando sente uma sombra diferente, um cheiro que não é o meu. Levei-o ao veterinário; quando chegamos, foi como se um alto-falante anunciasse Elvis is in the building. Ele é grande, musculoso (está pesando 52 quilos!), dourado, lustroso. Ele é majestoso, o meu gato laranja.

Ouço um recado que as meninas deixaram na caixa postal do meu celular. Não reconheço a voz das duas. Em um mês já não reconheço a voz das minhas filhas. Alguém pode por gentileza cutucar o motorneiro e pedir que ele pare o bonde que eu quero descer e voltar à estação? Lá, onde as duas eram meninas que amavam sapatos de bichinhos, vestidos de pregas e muito cor-de-rosa? Pode voltar, por favor? Eu esqueci uma coisa no banco - a infância delas!

Queria muito me apaixonar de novo. Mas ao mesmo tempo penso na canseira que isso provoca. O relacionamento que pressupõe confiar no outro, e aprender a aceitar, a acertar e errar, a lidar com outra vida. E sinto uma onda tão grande de medo que me apavoro e, igual a uma galinha, volto a ciscar em volta do meu engradadinho.
Lealdade, fidelidade, confiança, certeza, amor. De mão beijada não dá.

5 comentários:

Camilla Lopes disse...

Vim aqui há mais ou menos 6 anos atrás, e te deixei um recado que foi respondido, estava começando o meu cantinho(que hoje anda um pouco abandonado) já era sua leitora, lia você falando das suas filhas pequenas, e voltei faz um tempo...vendo você falar delas, e das mudanças, de você...ainda me encanto com a sua forma de ver as coisas simples da vida.

Juliana disse...

eu sou como a camilla: sempre me encanto.

mim disse...

Realmente, essas crianças crescerem nessa velocidade não é justo! A minha está na bica de fazer vestibular e já sonha com a carteira de motorista (coisas de quem mora em Brasília, onde os membros do corpo são divididos em cabeça, tronco e rodas), e dia desses era conhecida por todas as vendedoras da casa do pão de queijo como aquela menininha que adorava sentar no balcão pra 'ver' (se bem que o chapeiro do Chez Michou ainda reconhece a bichinha) :D
Bjks,
Solange

anouska disse...

Filhos crescidos trazem felicidades diferentes. E, não, ainda não sei transferir números para a agenda do smartphone, hehehehe. Bj

Day disse...

também faço parte do time dos encantamentos.
e, como você, também amo a noite e me dou melhor com ela - também sou canceriana!