terça-feira, maio 24, 2011

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As coisas acontecem a seu tempo - sua mãe diz isso, sua avó. Seu pai. Aí você perde a paciência porque era uma coisa tão simples, tão simples! Copiar um texto de 15 linhas da tela do computador. Só isso. E quando ela começou a passar a limpo eu fui arregalando os olhos, sentindo uma onda de fúria pelo trabalho desleixado - mais uma vez. Frases sem sentido, aquela letra meio torta, gigantesca. As frases começando sem terminar. Ódio, ódio! Não é possível fazer um trabalho decente, pra variar? Uma vez, UMA VEZ SÓ? Você está com 12 anos, acorda. ACORDA! Quer saber? Vai dormir, vai DORMIR AGORA, AGOOOORAAAA!
Ódio, ódio, ódio. As notas lá embaixo. As toneladas de material escolar perdido. As aulas esquecidas, assim como o que foi explicado ali, naquele segundo.

Eu fui dormir na base do eu não vou dormir coisa nenhuma vou ficar aqui deitada no escuro remoendo isso onde foi que eu errei. E então aconteceu - a seu tempo. Aconteceu. A tabuada que não entra naquela cabeça de jeito nenhum. A necessidade de estudar lendo em voz alta. Contar nos dedos. A péssima memória de curto prazo. As frases sem sentido, comendo palavras. A total falta de compreensão de problemas matemáticos. A confusão entre as operações básicas - mais, menos, vezes, divide.

Passei o dia lendo, pesquisando, conversando com uma amiga psicóloga. E agora estou à espera de orientação de uma consultora da Associação Brasileira de Dislexia, porque dos quase 30 sintomas descritos por eles, minha filha tem 23. E eu tenho todos os da mãe que perdeu a paciência, brigou, botou de castigo, chamou a filha de desorganizada e preguiçosa, e é somente uma merda de um poço de culpa e arrependimento.

Sem direito a tratamento nem desculpa.

8 comentários:

leila disse...

ter como saber tinha sim. mas agora q acordou, bola pra frente

Adrina disse...

Não posso te ajudar com absolutamente nada, mas digo que estou pensando em vocês com carinho, enviando boas energias. Vai passar. Fiquem bem.

neutron disse...

Suzana, minha mãe tem DDA. O que não é a mesma coisa, eu sei, mas ela também sofreu pra caramba até diagnosticar.

Depois, os remédios, o tratamento, tudo. E as coisas ficaram mais claras. Mais leves. Corre atrás do tratamento e se liberta da culpa, do remorso, porque são duas âncoras que ficam cada vez mais pesadas.


Você é uma mãe maravilhosa e nem precisamos lhe dizer isso: basta ler seus textos, em que você fala de Catatau e Zé Colmeia com letras esparramadas de amor. Do começo ao fim.

Beijo, forças e boas vibrações, sempre.

:)

Anônimo disse...

Suzana, muita calma nessa hora. A paciência ajuda a passarmos pelos problemas com mais brandura. É difícl? É! Mas tem que passar. E ajudá-la. Assim como voc~e procurar ajuda pra você superar isso! Bola pra frente! Sem desanimar, viu!?!

ditavonclaire disse...

faz o seguinte, espera essa resposta aí, mas de qualquer maneira me manda um email com todas as "dificuldades" da dona moça...no meu trabalho (super bem conceituado nisso) fazem intervenção para diagnóstico de dilexia. uma junta imeeeeeeeeeeeeensa de profissionais. todos meus compadres. eu peço pra eles darem uma olhada no caso dela. manda, tá?
de resto, gata, é assim, mesmo. theodoro tá com dificuldade na motricidade refinada. não consegue pegar garfo, nem desenhar, nem pintar, nem nada...é a vida. a gente tem culpa? claro que tem, mas e aí?
sabe?
beijo

Ana Cecília Moura disse...

Minha querida, voltando a ler e suspirar com teus escritos...

Mãe e culpa são sinônimos.

Só admito erro quando há dolo, intenção de "matar". rs No teu caso, foi excesso de amor, preocupação, "sacocheísmo". Bem vinda ao clube das neuróticas.

Não adianta dormir na culpa, vc DESCONHECIA o fato, Suzana! Bola pra frente. Na torcida, como sempre. Tudo vai dar certo. Inspira, expira.

Ciça

Simone Miletic disse...

E o duro é que essa culpa não passa.

carol teve um zilhão de problemas, a gente brigava, cobrava, como assim não tá fazendo? Como assim não gosta.

Aí você descobre o que não via e se culpa. E chora, e se sente a pior mãe do mundo.

Não vou dizer que passa, hoje ela tá bem, tanta coisa melhor, tanto sorriso sincero, ontem quis ir para a escola mesmo com febre. Mas a gente se xinga de novo.

A única desculpa é que a gente não sabia, que não tem manual ensinando qual o botão, qual o padrão, como agir.

O consolo é pouco, mas verdadeiro.

cris disse...

Querida, nem ela tem culpa, nem você. Você não é psicóloga, nem psicopedagoga. Você fez o que achou que era certo e agora se deu conta de um problema sério. Mas ela tem só 12 anos, Su. Tem jeito, ela vai superar. Lá na escola a gente tem disgnósticos muito mais cabeludos. Você está fazendo o que tem que ser feito. Não seja tão rígida com você mesma.

[off: sei que estou em falta contigo e com meio mundo, mas durante a semana tá foda e sábado também =( Em julho acho melhora. Saudades]