sábado, janeiro 30, 2010

...

Madrugadas foram feitas, definitivamente, para qualquer coisa - menos dormir.

Podia, mas não estou

Eu podia estar bebendo, eu podia estar transando, mas estou aqui, ouvindo a trilha sonora de "Love actually" e pensando nos acontecimentos do dia. Assim, eu não sou a melhor nem a mais brlhante profissional que a face da Terra já conheceu. Mas sempre tento seguir a máxima que meu avô me ensinou: "Bom senso é tudo na vida".

E aí eu vejo o trabalho da assessoria de imprensa. Que recebe lá, limpinho, R$ 8 mil para escrever o nome de tudo quanto é autor errado e dizer que há 70 anos o mundo exultava com uma economia capitalista desenfreada - quando na verdade as pessoas comiam carvão e se jogavam do alto dos prédios no desespero da recessão entre guerras.

E aí o gerente de marketing me liga. Ele é novo na casa, também. Um mês. Mas é um trator. E conversando me disse pra eu segurar as rédeas. Pisar no freio. Porque, você sabe, muita gente gosta da incompetência delas. Mesmo que isso signifique um prejuízo monumental todo mês - dinheiro vivo, ali, contado num cálculo mental de 3 segundos.

Eu podia estar bebendo. Eu podia estar transando.
Mas eu tô aqui, pensando na incompetência alheia.
Que tristeza.

quinta-feira, janeiro 28, 2010

E contando



Mais um que se vai. Todos uns grossos. Duby, Cortázar, Calvino, e agora Salinger - indelicadeza morrerem antes que eu pudesse conhecê-los pessoalmente. Tudo bem que o homem era um recluso, mas sei lá, né?
O mundo é um dedal, já dizia minha avó. E a esperança é a última que morre.

Pelo menos ela é educada.

Cidade Maravilhosa

Rio de Janeiro.
Alto verão. 38°C. Às sete da manhã.
Sem vento. Sem sombra. Sem trégua.
Sem água.
Desde sexta-feira.

Falando em arte perdida: ministrarei, brevemente, o curso "Como tomar um banho completo (lavagem de cabelos + depilação), lavar seu quintal e dar de beber a dois cães com apenas meia garrafa de água mineral (1,5 l)."
Inscrições abertas. Vagas limitadas.

Arte perdida

A menos de uma semana do início das aulas, não passei nem na porta da papelaria.
Comprar material escolar em cima da hora, vocês sabem, não é para amadores.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Vai lá

O baile, talecoisa. Então. Não fui. Cheguei a São Paulo na terça-feira, podre, debaixo de um temporal cretácico.
Primeiro esporro.
- Puxa vida, mamãe, como assim você não foi? Seu vestido tava liiiiiindo! A gente botou toda a nossa maquiagem [Sim. Minhas filhas têm mais maquiagem do que eu. Só coisa boa. Batom da Mônica & Nívea & que tais] na sua mala, você levou aquele perfume cheiroso e pra nada? Puxa, mãe. Que vacilo, hein?

Dormi com essa. Mas só até a quinta-feira, quando o boliche foi transformado, por conta do chuvaréu, numa ida a um bar.
Segundo esporro.
- Como você não foi? Como NÃO FOI? Assim não dá, né mãe? Você adora chope, diz que fica com a boca cheia d'água quando lembra do chope geladinho [Minhas filhas olham e dizem: "Nossa mãe, aquela pinguça" *suspiro*] e quando tá sozinha sem a gente NÃO VAI? Assim você não vai arranjar namorado, né mamãe? Assim, ele não vai cair no seu colo, né?

Minhas filhas, senhoras e senhores. Orgulho de mami.

domingo, janeiro 24, 2010

Ponte aérea

Primeiro dia, na esteira de bagagens em Congonhas:
9 ligações não atendidas
7 recados ("Mãe, você já chegou, é? Tem muita gente aí em São Paulo, tem?")
4 mensagens de texto
20 minutos ao celular

Segundo dia, hora do almoço:
14 ligações não atendidas
9 recados
8 mensagens de texto
14 minutos ao celular

Segundo dia, hora do jantar:
9 ligações não atendidas
4 recados
8 mensagens de texto
7 minutos ao celular

Terceiro dia, hora do jantar:
25 ligações não atendidas
14 recados de voz ("Sua caixa postal está cheia. Por favor, elimine algumas mensagens.")
13 mensagens de texto
6 minutos ao celular

Quarto dia, 5h15m:
"Mãe, te acordei? Mãe, você tá aí? Você volta hoje, né mãe? Mãe? Cê tá me ouvindo? Cê me traz alguma coisa aí de São Paulo? Traz, mãe? Mãe? Tá acordada? MÃE, ACOOOOOOOORDA! Oi, mãe?"

Vou precisar vender Catatau pra pagar a conta do celular. Se vender a Zé Colméia, aí que vou me lascar - só dando pro dono da Claro.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Socorro

Logo no primeiro dia do seminário da editora em São Paulo haverá um baile de gala. Sim, baile de gala. Pede-se traje passeio completo para homens e longo - LONGO - para as mulheres.

Levo o meu vison?

terça-feira, janeiro 12, 2010

Verbete

Suzana Elvas (Rio de Janeiro, 21 de julho de 1966 - Thousand Islands, 8 de julho de 2064). Jornalista, editora, autora de livros infantis, cronista.

Este artigo é um esboço sobre Suzana Elvas. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.

Não aprende

Sabe quando você acorda e diz "Hoje vou fazer AQUELA arrumação no meu armário" e começa cheia de boas intenções e tira todas as roupas e sapatos e cintos e maquiagens e acessórios e tralhas lá de dentro e começa a ver coisa por coisa e escureceu e você nem LIMPOU as gavetas e tudo está esparramado pelo chão cama sofá cadeiras mesa de cabeceira biombo espelho sapateira & outros móveis e falta menos de hora e meia pra você ir dormir porque amanhã tem reunião cedo e POR QUE EU FUI INVENTAR ESTA MERDA?

Pois é.

...

Calor.
Trabalho.
Falta de inspiração.
Feia, a coisa.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

No meio



Às vezes eu me sinto o leão.
Às vezes eu me sinto o domador.
Ultimamente eu sou o chicote. Quando gostaria, porém, de ser apenas a rede.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Anjo de esplendor

Nós três sentadas na cama, acompanhando um filme muito meloso, muito melodramático. A mocinha-que-fugiu-de-casa-para-realizar-seus-sonhos, depois de enfrentar bandidos que queriam pegar seus preciosos cachorrinhos, termina em trapos e suja, dando o último sorriso moribundo nos braços do amado-rapaz.

Zé Colméia se encolhe no meu colo e suspira; Catatau dá uma fungadinha e diz, compungida, depois de um minuto de silêncio solene:

- Mamãe, eu já sei como quero morrer.
- É, filha? Como?
- Muito bem vestida.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

A falta que faz



Eu sinto saudades de pessoas. Gente que eu nunca mais vou ver, que eu não sei se ainda está por aqui ou se um dia aquela sensação de injustiça vai desaparecer. Tenho saudades do cheiro de pinheiros que eu sentia quando chegávamos a Teresópolis, eu e meus irmãos espremidos no banco traseiro do Karman-Ghia do meu pai. Saudades do copo-estrela, um copo alto e último da espécie onde minha mãe botava uma medida de sagu para fazer o mingau que meu pai tomava antes de ir para o trabalho, as manhãs ainda escuras e silenciosas.

Sinto falta de andar em silêncio ao lado de alguém. Sinto saudades de amamentar, de Catatau segurando meu dedo mindinho enquanto bamboleava os primeiros passos, de Zé Colméia dormindo aninhada na curva do meu pescoço, de comprar vestidinhos enfeitados de margaridas ou sapatinhos com joaninhas de feltro.

Sinto saudades de cozinhar nas férias para uma multidão. De tomar sol até a pele arder, de estudar, de desenhar, de ter um diário escrito, de aprender caligrafia. Da minha cadela querida, dos meus avós, da comida da minha mãe, dos beijos das minhas filhas, do carinho daquele que porventura dormisse entre os meus cabelos.

Quando todo mundo fala em renovar, em (re)começar, eu ainda não consegui terminar, mesmo que queira. E eu, sinceramente, não quero.

ZZZ...

Achei nessas férias uma velha caderneta de telefones e endereços. Comparando com uma mais recente, me dei conta que eu sou um tédio. Meu celular é o mesmo há mais quase sete anos. Moro na mesma casa há quase nove anos; montei meu ex-critório no apartamento dos meus pais - o mesmo telefone há duas décadas e o mesmo endereço há quase meio século.

Pensando muito, mas muuuuito mesmo consegui lembrar de uma mudança em mim: agora eu gosto de esfiha de verduras.

*suspiro*

Bibidubidubidubibi

Ganhei um panetone do Roberto Carlos. E-mo-ções. Nem abri: repassei-o à minha mãe, que ficou de olhinhos rasos d'água.

Aí, ela adora o cara, bicho.

Shoppaholic

Sumir não significa esquecer, pois então. Muito trabalho, muitas responsabilidades. E não apenas com o emprego. Estabilidade financeira também demanda esforço, porque a primeira vontade que dá é entrar na primeira loja (e o problema é esse: QUALQUER loja) e desafogar anos de apertos. Anos de privações. Becky Bloom com limite ilimitado do cartão de crédito, sabe? Só que sem o cartão de crédito. E sem o limite ilimitado.

Pela primeira vez em anos consegui botar as contas em débito automático. Mal consigo acreditar. Débito au-to-má-ti-co. Fomos ao shopping no sábado para trocar um vestido que Catatau ganhou de Natal. Passamos na porta de uma loja-de-sapatos-fofos - uma, duas, três, quatro vezes. "Mamãe, que tanto você olha nessa loja?" "Ah, queria aquela sapatilha ali." "Compra, mãe. Vai, compra. Você quase nunca compra nada pra você." "Ah, mas é quase R$ 90. Deixa pra lá." E o que se viu foi as duas atrás de mim batendo os pés que nem soldado cantando aos berros "Compra um, tãtãtã! Compra um, tãtãtã! Compra um, tãtãtã!" Vergonha. Todo mundo rindo e eu, com a cara pegando fogo, emburacando loja adentro.

E por falar em vida nova: Novo Hotel Jaraguá, senhoras e senhores. É lá que vou descansar a cútis na semana de 18 a 22 de janeiro.