quinta-feira, abril 17, 2008

Prazeres

Sentada no ônibus, o olhar vai para um lado, o pensamento para o outro e os dois se encontram na calçada oposta, encantados por descobrir que os cães vadios olham cuidadosamente para os dois lados antes de atravessar a rua.

quarta-feira, abril 16, 2008

Linha tênue

Eu jurei que não ia falar disso, porque minha vida anda tão cansativa que eu resolvi fazer do Breviário meu espaço de futilidades - mas vamos lá.

Roberto Cabrini foi preso com dez (ou 15, já li os dois) papelotes de cocaína. Disse que estava fazendo matéria. O homem podia estar fazendo a maior reportagem da vida dele. Ou levando a cocaína para um amigo às portas da morte que precisava da droga para sobreviver a um vírus alienígena. Ou ser viciado. A polícia pode ser corrupta, corrompida, negligente, ineficiente, ausente, o que for.

Nada disso importa. Cocaína é droga ilícita, e ter em seu poder papelotes de cocaína é crime. Ponto final. Cadeia, julgamento, condenação ou absolvição. Isso me lembra muito o caso Tim Lopes, morto porque foi fazer matéria numa favela sinistra para confirmar a denúncia de bailes funk envolvendo menores.

Jornalista se acha acima do bem e do mal. Acha que pode apurar crimes e se sair bem. Não, não pode. Corre risco de vida como qualquer um. Pode ser preso por infringir a lei como qualquer um. E eu sei: trabalhei em redação de jornal grande por quase 10 anos, cobrindo cidade. Já caí nesse erro e quase fui morta numa subida de morro. Repórter (principalmente que cobre cidade) acha que o crachá, principalmente de jornal importante, é salvo-conduto pra tudo, colete a prova de balas. Não é.

Primeira infância

Um amigo está refazendo e eliminando posts de oito anos atrás. Sei lá - eu não chego a dizer que ele é maluco ou paranóico (ele diz que é, mas aí é com ele), mas me dá uma sensação de estar reescrevendo meus cadernos do primário.

Cristalina



Eu não gosto de vodca, a não ser a Absolut (Steve McQueen é meu rei e nada me faltará) e a Smirnoff.

Viu? É por isso.

Paraíso perdido

Yohji Yamamoto para Adidas:



Adidas Y-3 Tokoko.



Adidas Y-3 Shoulderbag.



Adidas Y-3 Shochi.



Adidas Y-3 Bisento.



Adidas Y-3 Field Baby - pro Theo, lógico.

Morri.

PS.: Se você é rico e quer ser meu Príncipe Encantado (taxista tá ok, viu ?), bom, eu quero o Look 51. E esquece o que eu disse aí embaixo.

Encantada



Meu príncipe encantado não precisa me dar jóias; não precisa abrir conta na loja da Puma ou da Adidas. Não precisa me levar pra jantar em restaurantes (caros ou baratos), nem ao cinema ou ao teatro.

Meu príncipe encantado não tem que me mandar flores ou chocolates. Não precisa me mandar os melhores livros da Travessa ou os clássicos da Modern Sound.

Para ser meu Príncipe Encantado basta aparecer do nada, encostar no meio-fio, saltar do carro e tirar dos meus ombros/das minhas mãos todas as sacolas e os embrulhos e as bolsas, enfiar tudo na mala do carro, abrir a porta, me botar lá dentro bem confortável e dizer: "Fecha os olhos que, quando chegar na sua casa com as crianças eu te chamo. E não se preocupe, que eu levo tudo pra dentro, ok?"

segunda-feira, abril 14, 2008

Lendo



Emprestado. Aceito doações.

...

O problema é que eu não tenho mais... paciência.
Sabe como é?
Pois é. Isso.
Sem paciência.

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De tanto que as pessoas escrevem "advinhar", que mais um pouco e "adivinhar" vai virar erro.

sexta-feira, abril 11, 2008

Notas sobre El baile

Cada vez que me levanto para sair em viagem sinto uma necessidade irresistível de ficar em casa. Como se cada viagem significasse o fim de uma etapa de minha vida, convertida numa perda irreparável. Não importa se viajo por prazer. Essa sensação - mistura de fracasso, melancolia e nostalgia antecipada - me acompanha sempre.

No caminho para o aeroporto de Torrejón vou lendo "El País" e "Les Inrocks". E sinto uma repentina e urgente necessidade de ler todos os livros que aparecem resenhados no suplemento literário "Babelia" ("El asombroso viaje de Pomponio Flato", de Eduardo Mendoza, "Dios no es bueno" de Christopher Hitchens... etc.), ver todos os espetáculos recomendados, comprar todos os discos que me atraem à primeira vista no "Les Inrocks", escutá-los todos, e selecionar os que me seduzem de imediato.
Cada vez que tomo o caminho para um aeroporto creio que estou abandonando minha própria vida, e que me vou à deriva.


"Mi filosofia del desplazamiento", 4 de abril de 2008 - Pedro Almodóvar agora tem um blog.

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Em relação ao quesito "expectativa", reconheço que sou ainda uma menina que, depois do acontecido, espera um "Mas que legal!" - e murcha quando ele não vem.

quinta-feira, abril 10, 2008

Foi-se

Envelhecer - no sentido de acumular anos - é um processo externo; cada dia tenho mais certeza disso.

Hoje, saindo de uma reunião na Praia do Flamengo, vi que o Giotto acabou. Pra quem não sabe (quase todo mundo): o Giotto era um restaurante italiano acanhado, mais velho que o tempo e que servia uma massa fresca divina. Foram muitos os domingos que meu pai encostou o opala vinho (de capota marfim) ali e, rapidinho, enquanto ficávamos no carro com minha mãe, pedia talharim, nhoque e massa de lasanha para minha avó preparar no almoço. O cheiro da farinha de trigo é uma das muitas marcas que ficaram da minha infância.

Pois o Giotto acabou. Assim como a Wilsonking, oficina mecânica e concessionária de carros Volkswagen que foi inaugurada um ano depois que meus avós nasceram (o slogan, pintado num muro, dizia: "Desde 1911, com você!"). Agora será um megacondomínio, estilo pombal. Como os sobrados da Rua da Passagem, que cedem lugar para os mais sujos e medonhos prédios da Zona Sul do Rio. Como a padaria em frente ao prédio dos meus pais - Flor de Laranjeiras (por que as padarias são sempre "flores"?), que virou uma lanchonete de cores chocantes para onde o povo, bêbado, ruma de madrugada. Como a quitanda Tirrênia, que ficava no comecinho da Rua Marquês de Abrantes, cujo dono, um português mal-educado que só, cobrava as frutas por quilate. Mas que frutas eram... Dignas de capa de revista.

A infância, a juventude da gente vai ficando então guardada no clichê da memória; volta quando contamos aos filhos "Mamãe vinha aqui todo domingo comprar macarrão feito pelo próprio cozinheiro."

Eu sempre choro quando isso acontece. Deve ser a idade.

Prazeres

Lavar o cabelo e deixar secar ao sol.

quarta-feira, abril 09, 2008

Everyday a sunny day

Ahn? Que horas são? Ahhh, cinco e quinze, já! Droga, dormi de roupa de novo. Não arrumei nada. Sem camisetas do uniforme. Nem calças. Nem meias. É só pensar com calma. Raciocinar. Passar camisetas e calças. Meias atrás da geladeira pra acabar de secar, ok. Cinco e meia. Credo, não arrumei as mochilas. Seis horas. Bora, povo, pra fora da cama! Tá quente o mingau, filha. Assopra que esfria. Outra fatia de bolo? Você já tá na terceira!

Banho, vai! ALGUÉM tem que ir tomar banho primeiro. Tá, então vai você e você escova os dentes. Na frente da pia, filha! Pára de mastigar a escova! Hein? Vestido? Que vestido? Não sei se vai dar pra fazer em casa de festa. Tá do avesso. Já vou, tô fazendo meu café! Já vou! JÁ V-O-U!!!!!!!!!!!

Esse. Não, esse, filha, esse. Esse. Esse. ESSE! É, esse. Veste logo. Não faço idéia onde está sua pasta. Não estou ouvindo nada, tô tentando tomar banho! Tô saiiiindo! Já vou amarrar, deixa eu me enxugar, um minuto! Se você quer arco, vai logo trocar.

Onde está? Sei lá! Então volta e pega, rápido! Já vou segurar, deixa eu trocar minha blusa que tá do avesso. Ai, Jesus, tranquei a porta? Tranquei ou não tranquei? Peraí, vou ver se tranquei a porta. Não, foi o cachorro que pulou. Deixa, filha, eu limpo na casa da vovó. Cuidado quando saltar. Você deixou o guarda-chuva no banco, pega aí. Olha o sinal. Pra frente, filha. Olha pra frente. OLHA PRA FRENTE! Quaaaaase você pisou. Não, não sujou. Beijo, te amo, boa aula. Alô? Mas eu ACABEI de te deixar na escola. Não, não pode comer na cantina. E pára de ligar a cobrar pro meu celular. Não, hoje não dá. Beijo. Beijo. BEIJO! Vou desligar. Tchau. Tá, também te amo. Desliga, filha. Por favor. Não, o natal tá longe. Tchau. Também te amo. Beijo. Tchau. Tchau, filha, desliga. Desliga!


Sobreviver até as oito da manhã. Uma vitória.
Bom-dia.

Breve



Num cinema perto de você.

quinta-feira, abril 03, 2008

No travesseiro




"Eu te amo muito. Você estará no meu coração. Pra mim você é um anjo e um cavalo e uma égua pulando em pedras.
Seus olhos parece [sic] um bolo de sorvete seus cabelos parecem uma rosa numa planta. Eu me divirto muito!

Zé Colméia"

...

Hoje, procurando no Orkut por colegas de colégio, me deparei com páginas de antigos colegas de jornal. Alguns com mais de 500 amigos. Meu ex-marido tem quase 400 amigos.
Como uma pessoa tem meio milhar de amigos? É uma competição pra ver quem tem mais amigos? Eu recebo pelo menos uma vez por semana convite para adicionar gente que, se falei ao telefone uma vez nos últimos seis anos, foi muito. Como vou adicionar essa criatura como "amigo"? Sequer é mais meu conhecido!

Não há henna que esconda meus cabelos brancos.

* E o mais engraçado é descobrir, na página de uma antiga chefe, os elogios de três ex-colegas de trabalho - as três demitidas por ela e que saíram falando cobras e jacarés (o que fazem ainda hoje). As três estão entre as primeiras fãs da dita.

É por isso que euzinha, o outro lado da dicotomia Marlene/Emilinha, não tenho página no Orkut.

quarta-feira, abril 02, 2008

AI extra neurônios



Meu candidato favorito é David Cook. Mas a cabeça dele é, assim...
Agoniante.

Festa de debutante



A primeira mensagem de correio electrónico (e-mail) indesejado foi escrita a 1 de Maio de 1978 e distribuída no dia 3. As reacções negativas não se fizeram esperar, mas, quase 30 anos depois, o spam generalizou-se. Agora, foi apresentada a maior queixa judicial contra os spammers.

O termo spam surgiu em 1937 como marca de carne enlatada, nos Estados Unidos. Em 1970, num episódio da série humorística inglesa Monty Python's Flying Circus, um casal cai do céu para tomar o pequeno-almoço num café mas qualquer prato proposto pela empregada tem sempre a tal carne enlatada. A mulher recusa-se a comer e quer outra coisa. Pelo meio, um grupo de vikings interrompe-os várias vezes com o refrão "Spam, spam, spam". O termo é referido 132 vezes num episódio de apenas três minutos e meio, segundo conta a Wikipédia, e até os créditos finais do episódio - disponível nalguns sítios Web de vídeo - incluem dezenas de vezes o mesmo termo.

Era o suficiente para enjoar o spam mas a ligação entre o nonsense britânico e o correio electrónico indesejado não foi linear. A única relação é ficar-se farto de algo que não se quer.

Oito anos depois, quando o primórdio da Internet se chamava ARPAnet (a ARPA foi o braço militar para a investigação e desenvolvimento nos EUA e dinamizadora da criação da rede informática entre militares e sistema científico), Gary Thuerk, um publicitário da empresa Digital Equipment Corporation (DEC) enviou a 3 de Maio uma mensagem para todos os endereços de correio electrónico da ARPAnet da costa oeste dos país (ver em www.templetons.com/brad/spamreact.html). A empresa acabara de apresentar o novo computador DEC-20 na costa leste e pretendia convidar os interessados para a apresentação na Califórnia.

"Nessa altura, existia uma listagem impressa de todos na Arpanet que eles usaram como fonte para a lista", explica Brad Templeton, actual presidente da Electronic Frontier Foundation e que compilou um historial sobre as origens do spam.

No caso DEC, como a rede só podia ser usada para fins científicos e educativos, Thuerk levou um puxão de orelhas, apesar de considerar que não estava a fazer nada de errado, e o spam desapareceu durante 15 anos.

No final de Março de 1993, Richard Depew tentou integrar alguma moderação nos newsgroups (fóruns temáticos electrónicos onde todos podiam escrever), para evitar que se publicassem textos que nada tinham a ver com o tópico principal. Por engano, acabou por enviar 200 mensagens para os administradores destes grupos e surgiu pela primeira vez o termo spam ligado às novas tecnologias.

A generalização do termo prossegui em 1994 quando, em Janeiro, os newsgroups receberam uma mensagem a anunciar a chegada em breve de Jesus. Mas as principais reacções e debates ocorreram em Abril quando dois advogados, Cantor e Siegel, colocaram em simultâneo uma mesma mensagem publicitária em mais de 6000 newsgroups. O caso deu que falar por se questionar a legitimidade do feito mas também a liberdade de expressão. Podiam eles expressarem-se, mesmo sob forma comercial, na Internet? E, em termos de privacidade, porquê ser obrigado a receber coisas que não se querem?

Desde então, as coisas só pioraram. Em Novembro de 2006, calculava-se que o nível de spam atingia os 80 por cento em todo o correio electrónico. "No início do ano, viam-se 50 mil mensagens de spam por dia, agora são 100 mil", explicava John Levine, presidente da consultora Taughannock Networks e co-presidente do Anti-Spam Research Group da Internet Research Task Force. [...]

Pedro Fonseca, Diário de Notícias
(publicado em 6 de maio de 2007)

terça-feira, abril 01, 2008

Literalmente

Às vezes eu sinto como se estivesse falando sozinha.